terça-feira, 16 de abril de 2013

A Opinião do Escritor João Tala

Processo eleitoral na União dos Escritores Angolanos

Isaquiel Cori
 
Três perguntas ao escritor João Tala, a propósito do processo para eleição dos novos corpos sociais da União dos Escritores Angolanos. Tala é um dos inspiradores da candidatura da Lista B, liderada por António Gonçalves.
  
Tem alguma razão de queixa em relação à forma como está a decorrer o processo eleitoral?

Está uma campanha bastante desigual e a imprensa não equilibra a vontade das duas listas do mesmo modo. Por exemplo, determinado semanário, muito conhecido no país e não só, fez campanha a favor da Lista A por três semanas consecutivas. Sabemos como isso se processa com negociatas «debaixo da mesa». Mas isso reflete apenas a atitude de uns quantos escritores sempre envolvidos de pensamentos mercantilistas para benefícios próprios e de alguns jornalistas ávidos da "massa". Estou hoje nada fascinado com a mesquinhice que reina na UEA. Muitos confrades consentem miséria ideológica, desunião, clientelismo, a exclusão etc., para que possam acontecer coisas desse género. A campanha da Lista A começou muito antes da realização da Assembleia que fixaria o início a 01 de Abril e isso já me deixa intrigado. Há também o facto autoconsumista, com dispêndio de fundos da UEA à campanha própria por parte da actual direcção, cedendo apenas valor irrisório à lista oponente.

O que tem a acrescentar ao programa eleitoral da lista B em circulação?

A Lista B parte de uma experiência que é o trabalho com o escritor, é a valorização da escrita literária como contributo ao património cultural. Fóruns como o I Encontro Internacional de Literatura Angolana, realizado em 1987, a instituição de prémios literários como o "Prémio pelo Conjunto da Obra" e outros, a promoção de tertúlias na casa dos escritores estariam acima do mercantilismo aproveitacionista, devolvendo-nos o conforto das Ideias, curtindo a nata do pensamento que faz o escol em Angola.

Tem a convicção de que a vitória da lista B está garantida?

Não me falta a convicção de que a UEA deve mudar uma série de aspectos. Apesar da surpresa que constitui a quebra rotineira das unanimidades, as duas listas estão em condições de ganhar ou não. Não antecipo nada para ninguém porque até ainda estou gratamente em campaha pela Lista B e os outros também estarão a fazer a sua.

Tudo a postos para o pleito eleitoral na UEA


Amélia Dalomba, presidente da Comissão Eleitoral

 
Isaquiel Cori

 
A eleição dos novos corpos sociais da União dos Escritores Angolanos (UEA) acontece a 20 de Abril, na sua sede, em Luanda, com a apresentação de duas listas. A lista A é liderada pelo actual secretário-geral, Carmo Neto, e a B por António Gonçalves.
Até ao dia 18 decorre a campanha eleitoral, com os candidatos a movimentarem-se e a divulgarem os respectivos programas.
Amélia Dalomba, presidente da Comissão Eleitoral, disse que todo o processo está a decorrer “com imensa tranquilidade”.
“O nosso trabalho é estabelecer consensos e equilíbrios e estamos a encontrar bastante colaboração entre os candidatos. Não temos nenhuma situação que lese os estatutos”, referiu.
A escritora garantiu que “os preceitos democráticos e estatutários estão presentes no processo e estarão presentes no pleito eleitoral”.
Disse esperar que a campanha eleitoral continue a decorrer com transparência e civismo e que cada um dos concorrentes “cuide do respeito pelo prestígio e a memória da instituição”.  
Deu a conhecer que está previsto pelo menos um debate entre os cabeça de lista, em data por acertar, na Rádio Nacional.
Fazem igualmente parte da Comissão Eleitoral os poetas António Panguila e Nok Nogueira e um representante de cada uma das listas concorrentes. O resultado da eleição é conhecido no dia 20 e os órgãos eleitos tomam posse no dia 28.
A UEA, fundada a 10 de Dezembro de 1975, congrega a grande maioria dos escritores angolanos. As suas acções estendem-se pelas vertentes associativa e editorial. O incentivo à escrita e a promoção do livro, da literatura e da leitura são as suas principais actividades.

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Programa da Lista A 
Trazer a público novos talentos literários
O programa da Lista A, onde pontificam Carmo Neto, candidato a secretário-geral, e Adriano Botelho de Vasconcelos, presidente da mesa da Assembleia Geral, manifesta a intenção de promover e divulgar cada vez mais a literatura angolana e trazer a público novos talentos no quadro do princípio da continuidade. Segundo os seus mentores, está voltado para a elevação da imagem dos escritores angolanos, o aumento das publicações e o reforço do papel da instituição como uma referência nacional e internacional na literatura, contribuindo na promoção, divulgação, construção e conservação da história de Angola no domínio cultural.
O programa prevê fortalecer as capacidades internas, para melhor responder e servir os seus membros e a sociedade.  Estabelece como linhas estratégicas para os próximos três anos o reforço da capacidade, imagem e relações institucionais; a promoção e divulgação da literatura angolana e a identificação e promoção de novos talentos.
O secretariado executivo, refere o documento, levará a cabo acções de capacitação dos quadros internos sobre estratégias de realização e produção de programas culturais e estabelecimento de protocolos de parceria com diversas instituições (internas e externas).  
É garantido que a comissão directiva procurará mobilizar e proporcionar espaços e meios para divulgação das obras dos membros dentro e fora do país e trabalhar-se-á na descoberta de novos talentos, tornando-os públicos com vista a incentivar a juventude ao gosto pela escrita e leitura.
A Lista A impõe-se como missão assegurar a promoção e divulgação da literatura angolana dentro e fora do país; defender os interesses dos membros da UEA e trazer a público os novos talentos da literatura angolana.
A meta é tornar cada vez mais a UEA uma referência incontornável na literatura angolana, contribuindo na promoção, divulgação e conservação da história angolana, sobretudo no domínio cultural. É igualmente fazer da UEA um espaço de partilha entre escritores, baseados nos princípios da solidariedade, transparência, unidade e responsabilidade social.
De modo específico, os candidatos da Lista A pretendem aumentar os níveis de produção e venda de títulos (livros) durante os próximos três anos; proporcionar  mais espaços de debate, troca de experiências e divulgação das obras dos membros da UEA dentro e fora do país; e reforçar e criar novas parcerias com instituições nacionais e internacionais, estabelecendo protocolos de parceria nos vários domínios da promoção e divulgação da literatura angolana.
Pretendem também incentivar o gosto pela leitura e a escrita no seio dos jovens e melhorar a capacidade de prestação de contas e as condições da UEA para prestar  serviços públicos.
O documento refere que, a ser eleita, a Lista A vai bater-se pela mobilização de meios para a produção de mais de 60 títulos dos membros da UEA a nível interno e externo, o estabelecimento de protocolos de parceria com Universidades e livrarias e por uma maior tradução da literatura angolana nas línguas estrangeiras mais influentes (inglês, francês, espanhol, italiano e alemão).
Vai realizar a Feira Internacional do Livro da UEA, com periodicidade anual, o Grande Prémio de Literatura da UEA, com carácter bianual, lançar o  Prémio António de Assis Júnior, revitalizar o Prémio Quem Me Dera Ser Onda e institucionalizar os prémios Alda Lara e Eugénio Ferreira, este especificamente no campo da crítica literária.
Com a Lista A, é prometido no seu programa, a literatura angolana passará a estar representada nos eventos literários internacionais, serão levadas “biblioteca e leitura” às principais unidades prisionais do país e publicitadas as obras literárias nos meios de transportes públicos e privados.
Serão feitas parcerias com a comunicação social para a promoção e divulgação da literatura angolana, realizados eventos culturais tais como a comemoração dos 50 anos de lançamento do livro “Luuanda”, do escritor Luandino Vieira, e a Semana Africana na Universidade de Coimbra, em Portugal.
Do programa consta igualmente a realização de um Seminário Internacional de Literatura sobre Guerra e Paz, um encontro nacional de escritores, a participação em feiras internacionais do livro e encontros de confraternização durante os aniversários da UEA.
O projecto de liderança de Carmo Neto para os próximos três anos inclui a recolha e selecção de novos potenciais parceiros para apoiar a promoção e divulgação da literatura angolana, a promoção de bibliotecas junto dos estabelecimentos escolares, formação e debate sobre crítica literária e o estabelecimento de protocolos com o Ministério da Educação para que nas escolas, a todos os níveis, seja obrigatório o estudo da literatura angolana e a divulgação dos escritores angolanos.
É prometida a avaliação interna e externa das contas da UEA e garantido o apoio à assistência médica e medicamentosa dos membros da UEA e pessoal administrativo.
O lema da campanha da Lista A é: “Unidos na União”.
 
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Programa da Lista B
Influenciar linhas de pesquisa universitárias


O programa da Lista B, segundo os seus mentores liderados pelo escritor António Gonçalves, é “inspirado nos grandes ideais que nortearam o surgimento da Geração da Mensagem (1948) e dos intelectuais precedentes, imortalizados no livro ‘Voz de Angola clamando no deserto’ (1801), primeiros pensadores angolanos e fundadores da nossa Literatura nacional”. 

A intenção da Lista B, segundo o preâmbulo do seu programa, é “colmatar inúmeras lacunas existentes no funcionamento actual da maior e mais antiga associação de escritores em Angola”.
Noutra vertente, é referido que se pretende “reclamar a maior adaptação da UEA aos novos tempos, projectar um futuro rico em inovações, mas sem esquecer a história do Povo Angolano e dos seus Heróis”. É igualmente projectado “recuperar o protagonismo perdido pela UEA como elemento ‘chave’ da sociedade civil e restaurar o orgulho de ser escritor-membro desta prestigiada associação”.
Concretamente, o programa da Lista B consiste em negociar um seguro para todos os escritores necessitados, organizar, em 2014, um colóquio em homenagem ao 90º aniversário natalício de António Jacinto (28 de setembro de 1924 — 23 de Junho de 1991), membro fundador da UEA e um dos grandes da literatura nacional e apoiar, em 2014, a segunda Edição da Bienal Internacional de Poesia de Luanda.
É pleiteada a organização, em 2015, da segunda edição do Encontro Internacional sobre Literatura Angolana, a consolidação do projecto editorial da UEA e o fortalecimento, de forma contínua, da publicação e divulgação de livros.
É referida a intenção de retomar a divulgação do Concurso Primeiro Livro, para os novos autores em todo o território nacional, a criação do Prémio UEA para o conjunto da obra de um escritor angolano, a ser entregue no dia 10 de Dezembro, em conjunto com o Prémio Primeiro Livro.  
É proposta a criação de uma comissão para pesquisar e sugerir a instituição do Dia do Escritor Angolano, a publicação da gazeta Lavra & Oficina, com periodicidade mensal, e a promoção de encontros nacionais de escritores, com cada edição numa província e o apoio do executivo local.
A liderança de António Gonçalves propõe-se a organizar, em cada dois anos ou sempre que as condições permitirem, um festival internacional de poesia de Angola com a presença de poetas do mundo, “com destaque aos nossos irmãos africanos”,  revitalizar os acordos já assinados pela UEA e reforçar os laços privilegiados com as diferentes associações de escritores da CPLP e de países como África do Sul, Congos, Zâmbia, Namíbia e da América Latina.
A Lista B promete criar programas de Oficinas de Escrita Criativa dirigidos especialmente a jovens, com a colaboração de especialistas de Angola, Cuba, Portugal e Brasil, proporcionar condições para a construção da Casa do Escritor, que, com os devidos apetrechamentos, servirá também para albergar personalidades estrangeiras convidadas pela UEA.
No seu projecto de gestão António Gonçalves, que se faz acompanhar pelo poeta João Maimona, proposto a presidente da mesa da Assembleia Geral, inscreve a produção de um programa, em formato televisivo e adequado ao radiofónico, para a divulgação e discussão da literatura e suas implicações na sociedade e o desenvolvimento de um projecto que permita manter convénios com instituições do ensino superior vocacionadas para o ensino de literatura, estimulando e influenciando as suas linhas de pesquisa.
É também referida a ideia de revitalizar os concursos infanto-juvenis e a sua extensão a escolas em todas as províncias.
Nas províncias onde as condições o permitam deverão ser criados  núcleos provinciais da UEA, com o apoio do Executivo local através da direcção provincial da Cultura.
Serão organizados encontros de confraternização entre escritores, para estimular as tertúlias, tendo como convidadas personalidades de destaque da vida sócio-cultural do país, bem como visitas turísticas a locais históricos e culturais espalhados pelo país, em companhia de personalidades nacionais e estrangeiras.
Finalmente, o programa da Lista B promete redefinir os critérios de atribuição da bolsa de criação literária, estabelecer um acordo com a coordenação das Mediatecas, de modo a ter-se em conta a divulgação e promoção dos livros dos escritores angolanos e estabelecer acordos com instituições culturais sediadas no país e no exterior.
“Competência, Responsabilidade e Solidariedade. Por uma União ao Serviço dos Escritores, da Cultura e da Nação” é o lema adoptado pela campanha de António Gonçalves.