quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Professor Francisco Noa fala da literatura de Moçambique e da língua portuguesa no espaço africano: "Temos estudos que podem legitimar as nossas variantes"

(NOTA: A entrevista que a seguir transcrevo foi produzida e publicada em 2014, quando estava profissionalmente vinculado ao jornal Cultura, na qualidade de editor de Letras. Publico-a neste lugar por causa da sua notória actualidade.)

                                                                       
    
Francisco Noa com o Presidente da República de Moçambique Filipe Nyusi, em 2015 (Foto de Ferhat Momade)

Francisco Noa, doutor em Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, docente das Universidades Eduardo Mondlane, de Moçambique, e Agostinho Neto, de Angola, ensaísta e crítico literário, foi um dos ilustres convidados ao III Congresso Internacional da Língua Portuguesa da Universidade Jean Piaget de Luanda, realizado nos dias 16, 17 e 18 de Setembro de 2014. Apresentou a comunicação “A Contribuição da Literatura no Desenvolvimento da Língua Portuguesa”. Gentilmente concedeu ao jornal Cultura a entrevista que a seguir se transcreve.

Jornal Cultura – Um aspecto que ficou marcado no congresso da UniPiaget é o facto de nos países africanos a escola tender a impor uma norma da língua portuguesa afastada do uso corrente da língua. Porque não elevar à norma aquela variante que afinal é a língua dos cidadãos?
Francisco Noa – É muito fácil imputarmos as culpas aos políticos mas é uma situação extremamente delicada que vai levar, infelizmente, muito tempo a ser resolvida. Podemos olhar para o exemplo do Brasil, que tem hoje uma norma surgida da variante brasileira. Isso foi o reflexo de muita discussão. O Brasil ficou independente em 1822 e houve a preocupação de criar uma literatura e toda uma mundividência que reflectisse aquilo que o Brasil era culturalmente. Houve, durante décadas, um grande debate entre aqueles que defendiam a variante que tinha a ver com a especificidade, estou a pensar num José de Alencar, e aqueles que defendiam o registo clássico, digamos, culto, da língua, caso de Machado Assis. Só durante o século XX é que a variante se transformou em norma. Os nossos países estão com quarenta anos de independência e se formos às Universidades Agostinho Neto e Eduardo Mondlane, entre outras, vamos encontrar já muitos estudos de especialistas em linguística, com muita qualidade, que serviriam para validar, legitimar, a adopção das nossas variantes do português como normas. Penso que o impasse que existe neste momento é o que Jean-François Lyotard dizia no seu livro famoso, “A Condição Pós-Moderna”, entre aqueles que têm que decidir o que saber, que são os da academia, e os que têm que saber o que decidir, que são os políticos. O que eu quero dizer é que esse impasse de alguma forma tem de ser quebrado, sendo necessária também coragem política.

JC – A discussão tem de sair da academia para a sociedade.
FN –E sobretudo para a política. Isso tem de ser um processo. Há muitos erros ortográficos e de natureza morfo-sintáctica e não podemos ser paternalistas e nos escudarmos permanentemente nas questões das línguas africanas. É preciso que exista um equilíbrio entre aquilo que é a tendência global dos nossos países, do ponto de vista das falas que se vão cristalizando, e aquilo que deve ser a norma e que deve legitimar uma certa qualidade comunicativa. A minha grande preocupação é a nível da escrita. Por isso eu coloco a questão: quais são os limites que a própria escrita se deve impor no sentido de ela manter a sua integridade? A escrita foi e será sempre sagrada, será sempre um registo mais estável e nobre do uso da língua. Significa que na adopção da norma é preciso que haja muitas precauções no sentido de evitarmos resvalar numa espécie de caos linguístico que obviamente vai gerar um caos comunicativo. Entendo que, sobretudo entre os jovens, há uma tendência cada vez maior de escreverem poesia e narrativas tal e qual como eles falam e o que eles falam tem a ver com a variante. É necessário haver todo um trabalho de concertação entre os poderes políticos e a academia. Isso parece-me irreversível.

JC –  A sua comunicação no congresso foi sobre a relação entre a literatura e a língua portuguesa. Pode fazer um resumo breve para os nossos leitores?
FN – Defendi, basicamente, que a literatura tem dado um grande contributo à estabilização e ao desenvolvimento da língua portuguesa. Dei o exemplo do Brasil, mas nós, quer em Moçambique como Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, vamos vendo que cada vez mais a literatura, além da relação com o quotidiano, tem uma relação muito profunda com a língua. Ela vai espelhando as tendências da língua dos pontos de vista lexical, semântico, morfo-sintáctico… Vai registando essas marcas e, de certo modo, legitimando o uso dessas marcas. No entanto, há uma situação no mínimo paradoxal. Apesar de a literatura ser um registo culto, ela vai inspirar-se nas falas populares, as falas das massas anónimas da população que reinventa a língua portuguesa todos os dias, atribuindo novos significados às palavras, acrescentando novas palavras ao universo da língua portuguesa, aportuguesando palavras das línguas bantu ou registando algumas das principais tendências das variantes, onde nós vemos claramente as interferências das línguas bantu. Sendo um espaço de possibilidades, a literatura mostra as enormes possibilidades plásticas que a língua portuguesa possui e explora isso ao limite. Temos os casos, entre outros, do brasileiro Guimarães Rosa, dos angolanos Luandino Vieira, Uanhenga Xitu, Ondjaki, de José Craveirinha, do Mia Couto, em que é manifesta a relação não só com um universo existencial mas sobretudo com a língua. Há claramente nesta relação com a língua portuguesa uma nativização e africanização da língua portuguesa.

JC – Pode traçar-nos um panorama sucinto do estado actual da literatura moçambicana?
FN – O que eu sinto em relação à literatura moçambicana é que há uma certa vitalidade, a nível da produção, e da reflexão sobre ela, que, entretanto, bem poderia ser maior. Sobretudo entre os jovens há uma grande vontade de produzir literatura, o que se vai reflectindo em algumas obras que manifestamente apresentam alguma qualidade, que nalguns casos é já assinalável. Como sabe, a literatura moçambicana passou por um momento menos bom, em que havia certamente alguma produção, mas sinto que hoje essa produção é acompanhada por alguma preocupação pela qualidade, quer a nível da poesia quer da prosa. Há um movimento dos jovens no sentido de discutirem a própria produção literária, sobretudo nos meios próximos às Universidades. Há sinais muito fortes e promissores no sentido de que a vocação e a marca de qualidade que vem dos anos 40 e que depois foi revitalizada nos anos 80 esteja de regresso. E com uma forte pujança. Alguns dos jovens autores têm um forte compromisso com uma certa tradição literária que existe em Moçambique.

JC – Em Angola temos algum conhecimento da literatura moçambicana que vai até à geração da Charrua, com nomes como Marcelo Panguana, Eduardo White, Ungulani Ba Ka Kossa. E há os casos particulares de Mia Couto e Paulina Chiziane. A antologia do conto moçambicano “As mãos dos pretos”, organizada por Nelson Saúte e editada em Portugal, foi vendida em algumas livrarias de Luanda. Mas desconhecemos o quadro das novas gerações. Pode elucidar-nos?
FN – Esse desconhecimento está a tornar-se estrutural e circular. Não sabemos muito do que os outros países produzem. Se em relação à poesia houve uma espécie de continuidade, contudo com aspectos inovadores importantes sobretudo do ponto de vista de uma certa trans-nacionalidade, que eu percebo, sobretudo em relação à actual produção moçambicana há uma grande preocupação com a representação do quotidiano, o que é uma marca das literaturas africanas no geral, esse compromisso com o meio em que elas surgem. As realidades africanas têm uma dimensão épica, porque temos grandes transformações a acontecer e isto funciona como inspiração, não só para os jovens mas também para os mais velhos, já que há uma espécie de compulsão criativa no sentido de registar toda essa pulsação que acontece do ponto vista social, cultural, político e a outros níveis. E a nível da prosa, sobretudo do conto, que é uma das grandes marcas da literatura moçambicana – contrariamente ao que muitos pensam, o conto é um género muito difícil – vão aparecendo alguns jovens que mostram qualidade, mas faltará no nosso universo uma crítica jornalística que poderia dar maior visibilidade às obras produzidas. Há uma crítica universitária mas que fica confinada às paredes das Universidades. Não gostaria de ser injusto mas há uns jovens que se destacam: o Clemente Bata, que lançou, há uns anos, o livro de contos “Retratos do Instante” e é universitário. Não quero dizer que para ser bom escritor tem que se ser estudante universitário, mas que o contacto com textos teóricos e com alguma reflexão mais elaborada na Universidade vai permitindo que esses jovens tenham uma maior capacidade e amplitude na forma como produzem e sobretudo um maior domínio das técnicas narrativas. Um dos grandes exemplos é o Lucílio Manjate, que é professor assistente, produz regularmente e tirou recentemente uma novela, “A Legítima Dor de Dona Sebastião”, que é, de certo modo, uma novidade na literatura moçambicana, porque além da preocupação com o quotidiano é uma narrativa marcada por um ritmo policial, com um texto muito bem conseguido em termos do enredo e da técnica narrativa. O Alex Dau, em “Reclusos do Tempo” oscila entre a preocupação com as pequenas ocorrências do quotidiano e as emoções do universo tradicional. Muitos jovens têm uma ligação com o universo tradicional muito residual, mas eles devem desenvolver alguma pesquisa para recuperar esse universo. O Andes Chivengue, no seu livro de contos, “Febre dos Deuses” apresenta umas marcas obsessivas do ponto de vista temático mas sinto que é um escritor com enorme potencial e que se mantiver uma certa constância e alguma profundidade pode ser um autor de referência na nossa literatura. Temos o Hélder Faive, com “Contos de Fuga”, conjunto de contos premiados onde é notória a preocupação com os dramas individuais, familiares e sociais, com forte ironia e uma assinalável qualidade criativa. Esses jovens sentem que nós vivemos numa sociedade em transição e a literatura funciona como um mecanismo de registar os movimentos dessa mesma transição. As obras que eles apresentam mostram que já dominam um conjunto de leituras que lhes permite um certo desembaraço do ponto de vista da técnica, da criatividade e da representação de uma determinada realidade.

JC – Tem chegado até nós, até recentemente com alguma regularidade, a revista electrónica Literatas, do movimento Kuphaluxa. Fale-nos desse movimento e da sua inserção na vida cultural de Moçambique.
FN – Esse movimento, para mim, além de funcionar como um sintoma, no sentido de que há uma ânsia desses jovens em estarem sintonizados com aquilo que é a produção cultural e literária, também é uma iniciativa extremamente meritória e válida. Penso no Nelson Lineu, no Arijuane Japone, no Eduardo Quive, entre outros… São jovens que estão a deixar uma marca, sobretudo porque não estão só a produzir literatura, sendo a poesia o seu registo mais importante, organizam palestras e encontros com convidados que já têm algum percurso criativo ou académico. Eles estão a ser, de facto, uma referência importante na nossa literatura. Claro que há alguns excessos, em alguns deles, o que é apanágio e natural nos jovens, com algum exibicionismo à mistura. O mérito está naquilo que está por detrás desse tipo de iniciativas, que acaba por ter um grande impacto junto dos outros jovens. Como sabe, nós vivemos tempos muito difíceis, em que os jovens vivem uma grande desorientação e uma grande lacuna do ponto de vista daquilo que seriam as referências nobres e estáveis para sua vida. Com a preocupação de se aglutinarem a volta de uma revista e de fazerem tertúlias, tal como aconteceu com a geração da Noémia de Sousa, do José Craveirinha e do Rui Knopfli à volta do “Itinerário”, e com a geração do Ungulani Ba Ka Kossa, o Eduardo White, o Suleimane Cassamo, o Armando Artur, e outros, à volta da Charrua, esses jovens vão certamente deixar uma marca na literatura moçambicana.

…………………….


FRANCISCO NOA é Doutor em Literaturas Africanas em Língua Portuguesa pela Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. Ensaísta e professor de Literatura Moçambicana na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique, é também investigador associado na Universidade de Coimbra, em Portugal. Foi professor na Universidade Agostinho Neto, em Angola.
A sua área de pesquisa actual abarca os temas da colonialidade, nacionalidade e transnacionalidade literária, a literatura como conhecimento e o diálogo intercultural no Oceano Índico, a partir da literatura. 
Actualmente é Reitor da Universidade Lúrio (UniLúrio), em Moçambique.

PUBLICAÇÕES:
- Literatura Moçambicana: Memória e Conflito, Imprensa Universitária, 1997.
- A Escrita infinita, Imprensa Universitária, 1998/2003.
- Império, mito e miopia. Moçambique como Invenção Literária, Caminho, 1998/2002.
- A letra, a sombra e água. Ensaios & Dispersões, Texto, 2008.
- Perto do Fragmento, a Totalidade. Olhares sobre a literatura e o mundo, Ndjira, 2014.


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Com o romance "A Trança" autor assume nova fase criativa: O regresso de Manuel Rui aos leitores comuns

                                                                         

Isaquiel Cori

O escritor Manuel Rui (MR), um dos mais prolíferos do país, entregou ao público leitor, no dia 15 de Janeiro de 2014, na UEA, o romance "A Trança", editado pela Mayamba com uma tiragem de 2 mil exemplares.  
Como o autor sinalizou no acto de lançamento, o novo livro representa uma mudança de estilo e de abordagem da sua própria escrita. "Talvez 'A Trança' possa ser encarada como uma mudança de estilo, uma mudança de ideias. Mudar não é triste, nem é triste mudar de ideias. Triste é não ter ideias para mudar".
Escrito numa altura em que se debatia com problemas de saúde, MR decidiu que o seu novo romance "não deveria ser longo nem triste, e trataria da espiritualidade africana, também como metáfora da força do pensamento".
"A Trança", efectivamente, garante uma leitura leve, com uma trama inicialmente simples, aparentemente linear, mas que depois se complexifica quando, no contexto rural do Huambo, a personagem principal se vai adentrando nas questões da espiritualidade das suas origens locais. Com o novo livro MR completa um movimento que começou em "Quitandeira e aviões", seu livro de contos publicado em 2013. Esse movimento consiste numa espécie de regresso ao chão dos seus leitores comuns, depois de, com os romances "Rioseco" e "Travessia por imagem", ter embarcado numa escrita densa, com forte pendor experimentalista e enredos e personagens complexos. Essa sua ambição demiúrgica de realizar uma espécie de romance total, que abarcasse a vida na maior amplitude possível, com recurso a uma linguagem laboratorialmente refinada, foi   aplaudida pela crítica académica no Brasil, Portugal e outros  países. Vários ensaios e dissertações de licenciatura, mestrado e doutoramento foram dedicados a ambos os livros.
Primeiro com "Quitandeiras e aviões" e mais ainda agora com "A Trança", reiteramos, MR regressa às origens, no que à comunicabilidade com o grande público leitor diz respeito. É sintomático que na mesma ocasião tenha sido lançada mais uma edição de "Quem me dera ser onda", (agora com uma tiragem de 10 mil exemplares) porventura o maior best-seller da história da literatura angolana, fazendo parte indelével do imaginário de várias gerações que o leram na infância ou na adolescência. Abrimos aqui um parênteses para apelar à reedição da novela "Crónica de um mujimbo", do mesmo MR, que já não se encontra a venda em lado nenhum mas encerra aspectos de extrema actualidade.
"A Trança" mostra-nos um MR absolutamente senhor dos seus recursos estilísticos, que não se fecha no gozo da sua própria escrita mas entrega-se ao leitor com a maior vontade de o servir. Toda a maturidade artística e pessoal de MR está ao serviço do seu novo romance: no livro só está o que lá devia estar, está-se diante de uma narrativa enxuta, desengordurada, sem digressões desnecessárias, sóbria. Por um momento MR parece ter abandonado a ironia e o humor corrosivo característico da sua obra. O autor alcançou o objectivo de não escrever um livro triste, mas, é preciso que o digamos, "A Trança" é uma narrativa muito séria. Talvez a circunstância de o ter escrito doente explique essa faceta. Em termos da serena maturidade patente na obra, este romance faz-nos lembrar "As palavras", de Jean-Paul Sarte e "O velho e o mar", de Ernest Hemingway.
Mestre em registar e recriar os modos de falar angolanos, MR dá a expressões que habitual e distraidamente usamos ou ouvimos na rua novos ecos, ressonâncias artísticas e estéticas até então insuspeitas. Atentemos ao diálogo de Maria com  o ardina Kasese, logo à saida do aeroporto: "Como te chamas?" / "Kasese" / Não tens um jornal antigo?" / "Antigo mais como então?"
O narrador gruda-se em Maria, conta a história por ela e através dela. Maria, "a dos olhos verdes e tranças de fogo", é uma mulher cosmopolita, viajada, portadora de "várias origens e que regressa à sua origem angolana". Passou a infância e a adolescência na Alemanha, indo viver mais tarde na Holanda. Em Angola pela primeira vez, passa rapidamente por Luanda e vai de autocarro ao Bimbe, no Huambo. Lá, a avó atribui-lhe um novo nome: Citula.
A partir daí MR transporta o leitor para a nova Angola, do pós guerra; não a nova Angola urbana, de asfalto e enormes vultos de cimento armado e vidros reluzentes. É uma Angola bucólica, pacata, que vive em comunhão com o espírito da terra e dos ancestrais. Maria, agora Citula, é iniciada na tradição e na espiritualidade ovimbundu, redescobrindo ela própria, também, as memórias dessa origem, que lhe foram inculcadas na infância. Através do olhar de Citula o narrador oferece ao leitor uma soberba descrição do mundo rural angolano, que alimentarmente se basta a si mesmo, até com fartura, e onde se vive em comunhão com os espíritos.
O final do romance é um hino ao fantástico, à magia e à tradição ancestral. É um mergulhar profundo de MR, e com ele do leitor, naquilo que um dia Henrique Abranches chamou de "realismo animista", referindo-se a uma manifestação literária especificamente angolana, em que se celebra o encontro da modernidade com a ancestralidade e em que os espíritos da terra e dos mortos vêm ao convívio dos vivos, em contraposição ao chamado "realismo fantástico", típico da literatura latino-americana e que tem no colombiano Gabriel Garcia Marquez, com o celebrado romance "Cem anos de solidão", o seu maior epítome.
"A Trança" é, no fundo, o país que Manuel Rui tanto ama e que é um melting pot de saberes, de sabores, de ideias, pensamentos e criação póprias", sintetizou Amélia Mingas, ao fazer a apresentação do livro. "Até que ponto esta obra não tem alguma ligação mais directa ao próprio autor? Ou se o avô que Citula queria ver renascer não seria o país que ela amava e aprendeu a amar através do pai?".
Leia aqui www.isaquielcori.blogspot.com/2016/03/escritor-manuel-rui-escrevo-sobre-o.html entrevista ao escritor, a propósito.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Entrevista a Gociante Patissa e M’Bangula Katúmua: O país sob o crivo de dois jovens escritores



Isaquiel Cori


Na sequência da leitura dos respectivos livros, “Fátussengóla, o homem do rádio que lançava dúvidas” e “Humanus”, fomos à conversa com Gociante Patissa e M’Bangula Katúmua. Ambos falam das suas origens enquanto autores e da assumpção ou não da identidade benguelense. Entre eles é consensual a ideia do peso marcante que a guerra teve nas suas vidas e, de certo modo, partilham um olhar optimista a respeito do futuro do país.

Pergunta - Que circunstâncias, ou pessoas, os despertaram para a escrita?
Gociante Patissa - A literatura é apenas a extensão de uma herança transmitida no convívio familiar, quase sempre alargada, como permite a proximidade africana. Apesar de ter deixado o meio rural aos sete anos, trouxe dali uma riqueza enorme, quer aquela mais proseada, ouvida de contos, fábulas e canções vividas no campo de que fomos arrancados, quer aquela mais fragmentada, vestida de parábolas e provérbios, o que de resto conseguimos resgatar e irrigar na cidade.
M´Bangula Katúmua - O meu envolvimento com a escrita confunde-se muito com a minha socialização política. Comecei, na verdade, de forma não intencional. Apenas declamava os poemas de Agostinho Neto nas actividades do INAC e OPA. Na altura tinha cerca de 14 anos. Depois continuei na JMPLA e quando fui para a Brigada Jovem de Literatura é que, aos poucos, comecei a ter a real noção do mundo literário. Porém a não intencionalidade do meu envolvimento com a literatura viria a manter-se nos anos seguintes. Ao longo deste meu breve percurso tive a sorte de cruzar com Nuno de Menezes, Raul David. Eles ensinaram-me coisas, cada um a seu jeito. Tenho dificuldade de identificar, com precisão, as circunstâncias que me despertaram para a escrita, porém a minha passagem por estas organizações sociais, particularmente a JMPLA e a Brigada Jovem de Literatura foram fundamentais para a minha forja. Lemos muito dos autores da BJLA, nos livros que Armindo Sardinha, Fernando Andrade, Nando Jordão, Paula Russa, Victor João, Nelo Santos nos davam. Lemos John Bella, Kudijimbi, Limpinho, Frederico Ningi, Costa Andrade, Aires de Almeida Santos, Alda Lara, Agostinho Neto. Seminalmente falando, é daí que viemos …. 
P - Identitariamente vocês assumem-se como escritores de Benguela, com tudo o que de simbólico ou positivo isso implica, ou consideram-se mais escritores voltados para o universal, sem um grande apegamento local?
GP - Benguela como tal para mim nada significa. E sinto que não tem o meu papel significado algum para Benguela, no seu conceito mais territorial e administrativo. Na verdade, a literatura, pelo seu lado formal, pouco me diz, se não for um veículo de contributo para o diálogo intercultural. Eu sou um ocimbundu que tem a missão de contribuir para que (parafraseando o escritor espanhol António Colina) não desapareçamos enquanto entes culturais. A universalidade só me interessa se ela me puder ouvir, se ela se reivindicar como encontro de identidades.
MK - Entendo que a literatura deve ser sempre universal mas, como todo o produto social, deve estar histórica e territorialmente localizada. Esforço-me para estar em linha com este entendimento. Não sou um poeta benguelense. Sou um poeta de Benguela. Não nego as minhas origens e influências, apenas acho que a humanidade é rica demais para nós vivermos em redoma. A arte precisa elevar-se, precisa ser e estar além do espaço ou do lugar em que é criada. Não estou a fazer a apologia à desterritorialização do acto criativo, nem a falar de uma arte pela arte. Há sempre engajamento na minha escrita. Mas o meu grito é um grito daqui para o mundo. São sentimentos e pensamentos daqui que partilho com o mundo. Um excessivo apegamento ao local pode levar-nos para aquilo a que chamo de “autoctonismo artístico”. Que é algo muito perigoso, pois retira a vitalidade da arte à medida que lhe retira toda a capacidade de dialogar com outros povos e culturas. 
P -  O que é que de mais significativo vocês retêm da herança literário-cultural de Benguela?
GP - Acho o espaço do livro bastante redutor e reduzido, e seria bastante injusto achar que um escritor em particular representasse Benguela. Há muito mais para lá do asfalto e do mar, ao passo que a literatura, colhida pela bitola de Gutenberg, pouco desce do prédio. Eu sou o povo, é nele que me acho, na sua riqueza linguística, na sua tradição oral que tanta lassidão parece gerar para os holofotes. É esta a minha missão. O livro é um complemento.
MK - Esta é a pergunta a que nós, os escritores de Benguela, teremos de responder sempre? Parece que sim! E ainda bem. Porque demonstra que temos responsabilidades. Lembra-nos o legado recebido de Alda Lara, Aires de Almeida Santos, Pepetela, Raúl David e outros. Deste ponto de vista, penso que é a preocupação com as nossas gentes e os nossos lugares. Não só poetas mas, sobretudo estes, sempre tiveram esta preocupação de eternizar os lugares e pessoas. Isto está patente no famoso poema “Meu amor da rua onze”, de Aires de Almeida Santos.
P – Como foi que o Patissa compôs o “Fátussengóla…”: juntou todos os contos que tinha ou seleccionou-os previamente?
GP - É óbvio que um escritor está sempre a escrever. No meu caso, alguns contos evoluem das crónicas que componho para o blog Angodebates, outros nascem como tal. E quando noto que há uma quantidade razoável, intensifico o trabalho de laboratório, visando excluir os menos conseguidos e aprimorar os que ficam. Dois dos contos não puderam entrar no livro “A Última Ouvinte” (UEA, 2010), com o qual me estreei na prosa.
P – “Fátusséngola…” ganharia muito se não incluísse algumas peças, reduzindo-o à menor dimensão e à melhor excelência possível. Quer comentar?
GP - É difícil ter-se uma percepção a este nível quando nos colocamos no papel de criadores apenas, ainda mais por se tratar de colectânea de contos escritos entre 2001-2014. Na verdade, nunca sei como o trabalho será recebido, daí ser importante (mau grado ser escassa) a oportunidade de ser estudado e aprender com as sugestões que advierem.
P – As figuras que você retrata nas estórias são ou foram reais? Por exemplo, o Fátussengóla existiu mesmo?
GP - Fátussengóla existiu, mas o que descrevo é ficção. A verdadeira história é muito amarga, não sei contá-la. Foi um mágico de levantar pessoas com os dentes pelo guarda-cinto, a título de exemplo, juntando prestígio ao ganha-pão. Mas com o apertar da penúria alimentar, no início da década 1990, ele enveredaria para o assalto a residências, perdendo a vida apedrejado. Apesar de não ter participado na barbaridade, tendo em conta até que eu era muito pequeno, carreguei sempre uma espécie de culpa indirecta, sendo este conto e título do livro uma espécie de redimir o bairro Santa Cruz, no Lobito.
P – Vocês nasceram em plena guerra. A guerra terá moldado, de alguma forma, a vossa visão da vida?
MK - Sem dúvidas. A minha geração tem de carregar esse trauma e essa responsabilidade. Os horrores da guerra nos privaram de muitas coisas mas nos fizeram mais fortes e mais preparados para a vida prática. Temos responsabilidades acrescidas; precisamos denunciar a loucura que é a guerra. Hoje precisamos dialogar mais, religar laços, estabelecer pontes, humanizar…é para esse sentido que, em parte, aponta o título do meu livro, Humanus.
GP - Acho que ganhei desde muito cedo a certeza de que a guerra, qualquer que seja ela, é uma estupidez. Uma criança tem sete anos e já sabe que não se pode comportar mal com a tia porque é nas costas desta que se há-de acoitar quando surgirem os ataques da guerrilha, já que a mãe tem uma bebé para cuidar. Tinha pouco menos de cinco anos quando a minha mãe levou com uma bala da guerrilha na bochecha, comigo às costas, numa madrugada de frio orvalho de cacimbo, que bem se podia ter alojado na minha cabeça e vos poupar destes escritos, não fosse a péssima pontaria do atirador. Quem disparou? É da mesma etnia, da mesma região, quiçá do mesmo sangue. O fim da guerra dá-se comigo envolvido no sector da sociedade civil, que muito contribuiu para a consistência da consciência cidadã. A minha escrita tem inevitavelmente uma abordagem, não apenas de reivindicação identitária, mas também de algum activismo pela vertente do exercício da cidadania.
P – O M’Bangula já tinha os poemas todos prontos, juntando-os apenas, ou escreveu-os como projecto de livro? 
MK - Como disse antes, para mim o acto de escrever é sempre um acto involuntário. Os cinquenta poemas constantes do livro Humanus foram escritos, na sua maioria, entre 2012 e 2013. Estava a juntá-los para um projecto, a minha de trilogia poética Sexorcismo (2008); Sexonância (2011). Contava publicá-lo com o título de Sexonetos mas, quando o meu amigo Gociante Patissa falou-me do Projecto Ler Angola, nada mais fiz senão dar-lhe um título que não assustasse o júri.  
P - Porque razão optou pela forma tradicional do soneto, ademais com os versos rimados, quando praticamente nenhum dos seus coetâneos o faz?
MK -  Isto sim! Foi intencional. Foi um desafio que me impus para dar corpo à minha proposta filosófica. A trilogia poética, como referi, devia culminar com a publicação de sonetos. Pois cada um dos três livros tem uma mensagem própria. E essa particularidade estende-se à forma. A quantidade, cinquenta poemas, partiu de um amigo que me falou na ideia de “meia centena”, gostei e avancei.
P – Em algum momento lhe ocorreu que estava a sacrificar o conteúdo à forma?
MK - Sim, várias vezes. Mas fui encontrando sempre formas alternativas.
P – Como é que vocês encaram o país e o seu futuro?
GP - O recurso ao passado é feito de maneira selectiva, dada a responsabilidade que recai sobre os ombros de qualquer angolano. Por muito que ficcionemos, ficcionamos sobre uma realidade objectiva. Não perco de vista o equilíbrio necessário à manipulação das dimensões cultural, social e estética. No entanto, acredito que lidar com o passado, sem deixar de ser uma missão premente, é ao mesmo tempo passível de coarctar, ainda que inconscientemente, o devaneio criativo de qualquer iniciativa que tenha por base de trabalho o realismo a partir da década de 1960. Pessoalmente, no meio rural, onde vivi até aos sete anos, testemunhei actos da mais feroz barbárie. Já no centro urbano, viria a testemunhar outros. São memórias frescas, voláteis mesmo. O tempo saberá o que fazer. Quanto ao futuro do país, já tive mais certezas.

MK - Seguramente. Vejo o país com os olhos de quem já chorou, passou fome e viu pessoas a morrer. Amo mais o meu país, amo mais a paz. Sei quanto valem os nossos bens públicos. Sinto-me mais militante dessa nova Angola. Temos tudo para dar certo. Aprendemos com a guerra, estamos a corrigir os nossos erros do passado. Acredito que é necessário apenas continuar com o trabalho em curso de inclusão social, diminuição das desigualdades sociais. Promover a nossa auto sustentação alimentar, a industrialização do país. O resto vamos todos fazendo, com educação, disciplina e trabalho.

Gociante Patissa e M’Bangula Katúmua: Dois projectos literários oriundos de Benguela




Isaquiel Cori


Os escritores Gociante Patissa e M’Bangula Katúmua partilham, ao menos, três coisas: são naturais de Benguela, nasceram no período pós-colonial e a existência de ambos decorreu em grande parte nos dias e anos tumultuosos da guerra de má memória. Os livros “Fátussengóla, o homem do rádio que espalhava dúvidas”, do primeiro, e “Humanus”, do segundo, aparecem juntos na colecção Novos Autores, editada pelo Grecima, a par de nove de outros tantos autores.
“Fátussengóla, o homem do rádio que espalhava dúvidas” é uma colectânea de 14 contos ambientados em localidades diversas da província de Benguela, do interior ao litoral, que resgatam da memória da infância e adolescência do autor toda uma galeria de personagens e situações marcantes, seja pelo lado do insólito ou dos afectos.
Gociante Patissa na verdade não é um autor de primeira viagem. Publicou em 2008 “Consulado do vazio”, poesia, em 2010 “A última ouvinte”, contos, em 2013 “Não tem pernas o tempo”, novela, e em 2014 “Guardanapo de papel”, poesia.
                                                             

Trata-se de um autor empenhado em apurar a sua própria voz, notando-se na sua escrita a fuga à facilidade e o evitar dos trilhos há muito batidos. Atente-se ao modo de construção deste parágrafo do conto “Minha mãe é hortelã”, em que além das imagens profundamente originais o leitor pode à vontade inverter a ordem com que as frases se apresentam sem afectar, contudo, a coerência do discurso narrativo:
“Ele, que não era de andar por aí a distribuir socos e pontapés, abraçou tal via. Era homem já quase feito, de caroço no mamilo e uma barba que não se lhe podia confundir com simples pêlos de calor do funji. Mesmo a catinga do sovaco dele anunciava os ingredientes prontos para dar bebés. Quem lhe provasse o sabor da surra já não voltava a gozar.”
Retenha-se esta outra preciosidade, a abertura do conto “No reino dos rascunhos”: “O velho estava velho, muito velho, logo doente. Para ser confirmado inerte, só lhe faltava parar o fôlego. Vendo bem, aquilo até podia ter outro nome, respirar é que não era.”
Como não há bela sem senão, a escrita de Patissa às vezes denota um excessivo “cuidado” em conformar-se às normas, às regras estabelecidas do “bem falar português”, sacrificando a emergência daquilo que podia ser considerada a sua própria linguagem, escorada nos interstícios mais íntimos do seu substracto cultural benguelense. “Havia um cão no quintal em que em tempos fui morar…” in “A estrela que não voltei a ter”. “… só não tendo o dono do alheio sucedido graças ao gradeamento interior aplicado poucas semanas antes da investida”, in “Gestão de vazios”.
Patissa, note-se, neste mesmo livro demonstra um grande domínio da sócio-culturalidade umbundo, fazendo recurso a palavras e provérbios da região.
Autor de imenso potencial criativo, Patissa tem o dom do olhar, da captação das singularidades aparentemente invisíveis e insuspeitas das situações e das personalidades.
O seu conto mais significativo é o que dá título ao livro: “Fátussengóla, o homem do rádio que espalhava dúvidas”. É uma narrativa digna de figurar na mais selecta das antologias de literatura angolana. É a biografia de uma personagem tão singular na ficção como na vida. (Aliás, “… a profissão de biografista independente faliu, como hoje vemos”). Fátussengóla, de nome verdadeiro Virgulino Kaendangongo, “que na língua umbundo significa eterno sofredor”, é um personagem da estirpe de um Mestre Tamoda de Uanhenga Xitu, com o qual partilha o estatuto de orador, as poses e o gosto pela mais gratuita verborreia. Fátussengóla ganha imediatamente a simpatia e a compaixão do leitor pela forma soberba como o autor o apresenta, seja descritivamente, seja pelo desdobrar dos diálogos. E o final da estória encerra tanta preciosidade como o tesouro que nele é revelado.

Em causa o ser humano

Humanus, de Mbangula Katúmua, é um conjunto de cinquenta poemas sóbrios, reflexivos, escritos na forma de sonetos, essa maneira tão antiga e clássica de poemar (duas quadras seguidas de dois tercetos). E Katúmua vai tão longe no seu exercício de preciosismo formal que todos os seus poemas, rigorosamente, são rimados.
“Das velhas profecias que nos liam outrora / Agora veio um velho cancioneiro hegeliano / Uma espécie de novo cardápio do contra / Que encerra teorias de combate miliciano // O inimigo agora é outro / São os potes de luz / O nosso mastro / É a nossa própria voz // Eis que vos apelo / Gritemos bem alto / Até que nos solte o pêlo // Sobre estas laudas ninguém dança / Nem mesmo no dia em que comemorarmos / A nossa morte sobre a ponta de uma lança”, in “15”.
Os poemas de “Humanus” não devem ser lidos uma única vez. Nem, necessariamente, na ordem proposta pelo autor. A uma primeira leitura o formalismo preciosista e até mesmo academicista dos poemas ressoa a algo decadente, perfeitamente démodé. Mas tão logo nos concentramos mais na leitura damo-nos conta que, afinal, a fórmula rígida adoptada pelo autor contém autênticos vulcões de emoções e sentimentos a respeito do mundo e da vida.
                                                                 

“A noite não chega a tempo / De contar os sonhos das gentes / Enquanto isso, ouvem-se vozes do topo / Para anestesiar os fétidos corpos delirantes // Vozes cansadas, sinfonias de morte / Ruas estreitas, passos apressados / Na paisagem agreste / Sonhos condenados // Na desnuda avenida daqui / Que ferozmente colapsa / Como os discursos do Maquis // Mas, quem ouviu não esqueceu / Os caminhos, a dor que perpassa / As entranhas da pátria, e o dia que nasceu”, in “28”.
O sujeito poético em vários poemas de “Humanus” parece desapegado da vida, situando-se numa colina qualquer a partir da qual observa a cena humana. E se fala de coisas que já viveu, recorda outras que poderia ter vivido. No limbo entre o sonho e a realidade, entre o celeste e o terrestre, ele confessa-se: “Suspendo-me nos píncaros dos sonhos / Donde me chega homofóbica melodia / E vejo no meu irmão um marciano”.
Ao contrário do seu coetâneo Gociante Patissa, em que as marcas da sua “benguelensidade” estão em todos os quadrantes dos seus textos (na geografia, na linguagem e na filosofia proverbial e até na temporalidade), o poeta de “Humanus” é um ser dilacerado na sua subjectividade que se dirige ao homem comum, desarvorado do seu lugar e até do seu tempo.
“Ainda que farto de ti, ó ser distante / És o caminho que busco e que sigo / Longe da consumição do inimigo / Contemplo de perto luz reluzente // Nos pés fartos de caminhar / Tenho feridas e bolhas de água / Para de todos saciar essa inócua / Sede de infinito clarear // Caminhantes de uma terra longínqua / Somos todos o húmus desta terra / De ventre esviscerado // Ninguém sabe se quando enterra / Uma sôfrega lágrima inócua / Constrói um destino obliterado”.

----------------------------------------

M’Bangula Katúmua (pseudónimo literário de Martinho Bangula Katúmua) nasceu em Benguela em 1985. É licenciado e mestre em sociologia. Actualmente é secretário provincial da Brigada Jovem de Literatura de Benguela e docente universitário.
Daniel Gociante Patissa nasceu na comuna de Monte Belo, município do Bocoio, provincia de Benguela, em Dezembro de 1978. É licenciado em linguística, especialidade de inglês, pela Universidade Katiavala Bwila.