quarta-feira, 20 de julho de 2011

Notas de um Verão frio em Lisboa

Isaquiel Cori | Lisboa



Ponte Vasco da Gama


Lisboa, a encantadora capital de Portugal, vive os dias de um verão atípico, com a temperatura ambiente a obrigar os forasteiros mais friorentos, sobretudo ao cair da noite e ao princípio da manhã, ao uso de roupas adequadas.

A cidade continua a atrair imensos cidadãos estrangeiros, apesar das notícias pouco animadoras a respeito da crise que afecta o país. O Rossio é a meca que todo o mundo sabe e é um deslumbre percorrê-lo todo, por entre a multidão de vozes em várias línguas, as montras apelativas das lojas e as esplanadas, quase sempre abarrotadas de clientela, dos restaurantes. A calçada, antiga mas muito bem cuidada, remete-nos imediatamente para o universo poético de Cesário Verde, que no século XIX descreveu, com uma beleza e precisão definitivas (Cristalizações), o trabalho pesado dos calceteiros lisboetas (“terrosos e grosseiros”).

Num outro lado da cidade, na parte oriental, estão jóias da modernidade como o Oceanário (considerado por muitos o melhor do mundo) e a ponte Vasco da Gama (cujo vulto enorme estende-se por toda a dimensão do olhar).

Por estes dias um fantasma percorre Lisboa e todo o Portugal. É o fantasma da crise económica que assombra os portugueses e ensombrece o Verão. A crise ainda não marca o quotidiano de modo exuberante mas já preenche os principais espaços das televisões e dos jornais. O recente anúncio do imposto extraordinário de 50 por cento sobre o subsídio de natal foi recebido pela população, de modo geral, com desagrado e ao mesmo tempo com resignação resultante da compreensão da necessidade de se consentir sacrifícios para se ultrapassar a situação.

O país, carregado de dívidas e com um défice orçamental enorme, tem de implementar, em três anos, um programa de austeridade imposto pela Troyka (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), com reformas estruturais que irão repercutir em todos os sectores da actividade económica e social. Prevêem-se, ao menos, dois anos de recessão e o desemprego deverá agravar-se, atingindo em 2012 os 13,2 por cento.

A grande dúvida que paira em muitos espíritos é se os sacrifícios exigidos pelo governo valerão mesmo a pena, quando é cada vez mais patente que os problemas e as soluções ultrapassam o quadro português e estendem-se a toda a zona do euro. Muitos analistas sustentam a teoria da conspiração e denunciam um ataque em toda a linha contra a moeda única europeia por forças do mercado interessadas na supremacia do dólar norte-americano. Nesse quadro, as todo-poderosas agências de notação, predominantemente americanas, com a Moodys à cabeça, são encaradas como as principais desestabilizadoras do mercado europeu. Só para lembrar, na semana passada, a sentença da Moodys, que atirou a dívida pública portuguesa à categoria de lixo, suscitou o repúdio da sociedade lusa que se uniu num sentimento geral de orgulho nacionalista. Aliás, a dita sentença da Moodys teve o condão de levantar, a nível europeu, todo um coro de solidariedade para com Portugal e aumentar a percepção geral a respeito do poder nefasto de tais agências.

Se o futuro próximo e distante de Portugal é mais do que complicado, hoje por hoje a vida em Lisboa segue o seu curso normal. As férias de verão levam muita gente às praias e os festivais musicais que se vão sucedendo reúnem multidões sedentas de diversão. Mas as pessoas sabem o que se passa e o que as espera nos próximos tempos, não fossem os cidadãos portugueses indivíduos muito bem informados. Os telejornais e os debates televisivos são acompanhados atentamente até nos restaurantes e os jornais, segundo estatísticas recentes, são cada vez mais procurados.

No verão os jornais adoptam estratégias diversas para aumentar as vendas. Só para citar um exemplo, o Diário de Notícias está a oferecer gratuitamente com as suas edições das segundas-feiras, quartas e sábados livros de bolso, com pouco mais de meia centena de páginas, que reúnem contos de autores universais. É uma verdadeira delícia reencontrar assim textos de mestres como Edgar Allan Poe, Honoré de Balzac, Alexandre Dumas, Guy de Maupassant, e outros.
Raramente a imprensa consegue alcançar tamanha expressão de serviço público!

(Texto publicado na edição de 17/07/2011 do Jornal de Angola)


2 comentários:

  1. Olá Isaquiel Cori

    Os meus votos para que continue com o mesmo ânimo de sempre.
    Dou-me a conhecer pela minha página que convido a visitar: http://about.me/ruimoio

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  2. Sim definitivamente Lisboa é uma cidade interessante. O modernismo juntasse a antiquidade da cidade e da naquela beleza unica. O clima, este é ainda melhor, convida a longas caminhadas e a apreciar a arquitectura da cidade repleta de pontos historicos. E a comida, ohhhh as delicias dos restaurantes portugueses....

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