Alguns dias depois de ter defendido a sua tese de doutoramento, o Professor Mulangu Malenga Justin, da Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto, ainda recebia os efusivos cumprimentos de colegas, alunos, familiares e até de pessoas desconhecidas. “O professor agora é doutor duas vezes”, brincou, em jeito de felicitação, um dos seus colegas.
Intitulada “Contribuição para o estudo
de plantas medicinais em Angola com actividade hepato-protectora:
caracterização do perfil fenólico da Boerhaavia Diffusa L”, foi a primeira tese
de doutoramento defendida na Universidade Agostinho Neto, em toda a sua história.
O acto decorreu no dia 17 de Abril, no Campus Universitário da Camama, em Luanda. Malengu Justin
obteve do júri, presidido pelo Magnífico Reitor da UAN, Professor Doutor
Orlando da Mata, uma distinção com louvor, o mais alto nível de excelência.
A pesquisa desenvolvida por Malengu
Justin, ao longo de quase dez anos, visou extrair, separar e identificar os
compostos químicos activos da planta Boerhaavia Difusa, a nossa muito conhecida
Ditumbate, em kimbundo, Kudyangulu, em Umbundo, e Bamba, em Côkwe. O estudo avaliou,
igualmente, os efeitos da natureza do solo e das condições climáticas sobre a
quantidade de compostos químicos activos da planta.
O investigador começou as
análises científicas preliminares do Ditumbate em 2003, no Laboratório de
Farmacognosia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, em Portugal. A
espectrometria de massa, que consiste na separação das moléculas, foi feita num
laboratório em Espanha. Já
o trabalho de análise quantitativa e qualitativa das moléculas foi realizado
inteiramente no laboratório da Faculdade de Engenharia da Universidade
Agostinho Neto, com a ajuda de um aparelho chamado Cromatógrafo Líquido de Alta
Eficiência.
O LESRA (Laboratório de
Engenharia de Separação, Reacção e Ambiente), segundo Malengu Justin, em
entrevista ao Jornal Cultura, é um orgulho da instituição. Dispõe de
equipamento de ponta, adquirido graças ao financiamento de empresas do ramo
petrolífero que operam no país.
O Ditumbate prolifera em todas as
regiões do país. No estudo foram utilizadas amostras provenientes de Porto
Quipiri, Centro Emissor do Cazenga e do jardim do LESRA. Uma das curiosas conclusões
foi de que cada amostra tinha o seu próprio perfil químico, em função da
natureza dos solos.
O trabalho de investigação de
Malengu Justin teve o mérito de identificar doze compostos químicos, oito dos
quais foram detectados pela primeira vez no Ditumbate.
“Eu isolei e analisei as
substâncias que compõem a planta, cabe agora, por exemplo, aos farmacêuticos
determinar o efeito medicinal de cada uma delas”, disse Malengu Justin.
Segundo o cientista, vários
estudos de etno-farmacologia e fito-farmacologia, em Angola e no estrangeiro,
apuraram que o Ditumbate é eficaz no tratamento de patologias cardio-vasculares
e genito-urinárias, da heptatite B, icterícia, e outras. Está igualmente
consagrado que é um protector do fígado.
Malengu Justin reconhece o legado
científico da bióloga Manuela Batalha Van-Dúnen, que fez um estudo pioneiro, no
pós-independência, de catalogação sistemática das plantas medicinais, com base
em pesquisas etno-botânicas em várias regiões do país. O académico faz um apelo
aos jovens estudantes universitários: “temos de despertar o interesse pelas
plantas medicinais. Há que resgatar o saber tradicional a respeito das suas
propriedades terapêuticas. Esse saber constitui parte da memória colectiva e é
o ponto de partida para os estudos científicos”.
Uma fonte da Reitoria da UAN
afirmou a este jornal que o programa de defesa de teses de doutoramento vai
prosseguir. A programação está dependente das várias Faculdades.
Perfil do académico
Mulangu Justin nasceu aos 23 de
Setembro de 1943, em Lubumbashi, na República Democrática do Congo. Fez a
licenciatura em Electroquímica na Universidade de Bruxelas, Bélgica. Vive em
Angola há trinta anos. Casado, com quatro filhos, é professor titular do
Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia da UAN. Já teve
participação em três projectos industriais. É adepto do Barcelona e do Petro de
Luanda.
O estudioso revelou ao Jornal
Cultura que lhe foi feita, por uma autoridade que não identificou, a proposta
para requerer a cidadania angolana.
O seu trabalho de doutoramento
serviu de base para um artigo que publicou na revista Phytochemical Analysis,
editada em
Inglaterra. Fala fluentemente o português, francês, swahili,
lingala e tchiluba, e, razoavelmente, o inglês e o espanhol.
“Vou repousar um pouco e depois
vou tentar interessar os meus alunos a continuarem as pesquisas, sob minha
direcção”, disse, questionado a respeito dos seus planos.
Muito interessante gostaria de saber como deve ser utilized,estas de parabéns que haja mais investigaçõ sobre as nossas plantas medicinais.
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