terça-feira, 13 de setembro de 2011

"Sandumingu: O Nome de um Miúdo", livro de Frederico Ningi


Frederico Ningi (dir) com o escritor Gociante Patissa
Isaquiel Cori

Acabo de ler o livro de Frederico Ningi, “Sandumingu: O Nome de um Miúdo”, editado pela União dos Escritores Angolanos na colecção “Sete Egos”.

É uma narrativa de 24 páginas, que durante vários dias ficou na minha mesa de leitura à espera de uma oportunidade para ser lida. O subtítulo “O Nome de um Miúdo”, ao remeter imediatamente para a ideia de um livro para crianças, é enganador. Se nas primeiras linhas, efectivamente, o autor parece hesitar entre a narrativa infantil e a, digamos, “adulta”, tão logo envereda para um retrato desapiedado de um sujeito embriagado pelos vinhos do poder.
O que parecia, pela sugestão do título e a hesitação inicial do autor acima referida, um livro destinado primordialmente a leitores infantis, explode tão logo numa prosa satírica, de escárnio, uma pintura de tintas fortes, carregadíssimas, a respeito da vida de um novo-rico que dá precisamente pelo nome de Sandumingu.
A narrativa é rápida, concisa, focada em cenas tão hilariantes que não pude deixar de, de quando em vez, largar umas boas e revitalizadoras gargalhadas.
Sandumingu não é um miúdo. É um indivíduo que se apresenta como “Sandumingu de Sandumingu”, do alto da mais pura arrogância. É um dos milhares de indivíduos que, favorecidos por uma conjuntura histórica, económica, política e social peculiares, se ergueram rapidamente do campesinato para a superestrutura do poder político, económico e empresarial.
Frederico Ningi desconstrói esse indivíduo, desnuda a sua psicologia, ridiculariza a sua arrogância e dá ao leitor um festim de riso de que poucos terão desfrutado ao ler um livro.
Retrato hilariante do novo-riquismo angolano, lá para o fim, a história desemboca num conflito entre Sandumingu e o Senhor-Figura, em que intervêm, ou são mencionadas, a chefe Rabú e a doutora Sorna…

O Autor

Frederico Ningi (n.17/02/1959) é natural de Benguela. Jornalista, artista plástico e poeta, ultimamente está muito voltado para a exploração do potencial artístico das novas tecnologias de informação e comunicação.
Membro da União dos Escritores Angolanos, é  autor dos livros:

 - Os Címbalos dos Mudos (poesia)1994.

- Infindos nas Ondas (poesia) 2002.

- Títulos de Areia (poesia) 2003.

 Tem poemas e crónicas esparsos por publicações angolanas e estrangeiras.


O livro por si mesmo (Excertos)

“Sandumingu, emocionado, descalçou os sapatos dos seus segredos e disse aos integrantes da sua equipe: - Eu fui nomeado e quero ser rico – e então vamos ter de arrumar e limpar o nosso caminho tirando todas as pedras do caminho. Vamos perdoar os casos perdoáveis, se casos da nossa causa forem. – Prometo trabalhar para todos, mas primeiro para mim e para os que estiverem comigo nessa caminhada, prometo dar coragem, que não tenho, posso dar a esperança, que não está em mim.” Pág. 14.

…//…

“Logo depois apareceu o próprio Sandumingu, em pessoa, para resolver as questões de tesouraria com a clínica e apresentar-se junto da equipe médica de serviço naquela noite no banco de urgência: - Eu sou Sandumingu de Sandumingu, como podem ver – e este paciente é o meu tio. Qualquer coisa, é só ligar para o meu móvel. – Por favor, não se acanhem…

- Ele é o que de quem? – perguntou o médico de serviço.

O seu assistente: - é o famoso famosíssimo Sandumingu de Sandumingu. O médico assistente: - é famoso porquê? – Na vaidade e na arrogância.” Pág 15.