Isaquiel Cori
Vem
aí o congresso do MPLA. A actual situação de bicefalia, com um Presidente da
República que não é o do MPLA (ou um Presidente do MPLA que não é o da República)
vai finalmente acabar. João Lourenço, candidato único, vai ser eleito
presidente do MPLA.
Essa
bicefalia que vai chegar ao fim tinha todo o potencial de dar perigosamente para
o torto. Tal não aconteceu, a meu ver, porque José Eduardo dos Santos velho, cansado
e doente, não tem mais o ânimo para envolver-se em extenuantes articulações
políticas e não goza do respeito nem do medo que infundia na maioria dos dirigentes.
JES
fez do MPLA tudo o que queria. Rarissimamente foi contestado, a sua vontade era
unanimemente caucionada. A famigerada política da acumulação primitiva de
capital, cujos resultados demandam agora uma cruzada contra a corrupção, não
foi concebida no calar da noite, na clandestinidade.
Foi
proclamada como uma política de Estado. E diria mais: foi uma opção de regime.
Muitos ganharam com essa política, seja através de transferências directas de
benefícios económico-financeiros, seja através do aproveitamento oportuno
(estar no lugar certo, no momento certo) do ambiente e da mentalidade do “salve-se
quem puder” típicos da correria desenfreada e amoral pelo enriquecimento. (O
fenómeno da “acumulação primitiva de capital” está devidamente descrito na literatura
científica).
JES
não esteve sozinho. Teve o apoio total no Estado e no partido MPLA.
A
minha maior curiosidade relativamente ao próximo congresso do MPLA é saber a
natureza do partido que dele vai emergir. O partido que endeusa o seu
presidente, com dirigentes dispostos a passar-lhe cheques políticos em branco a
troco de favores pessoais e de benefícios económico-financeiros? Ou um partido com
dirigentes individualmente tão corajosos como o seu presidente e por isso sem
medo de eventualmente o contrariar? A coragem de João Lourenço vai medrar e fazer
escola no seio dos dirigentes do MPLA ou vai confinar-se só e unicamente a ele?
E
mais do que tudo isso: com que tipo de partido o novo presidente do MPLA vai
querer contar? O que é que ele, na verdade, pretende que o MPLA seja? Ou melhor
ainda: o que é que o presidente João Manuel Gonçalves Lourenço vai fazer do
MPLA?