ISAQUIEL CORI
Estamos cá. Conseguimos. Atravessamos o Rubicão
(“Alea jacta est”, diria Júlio César), orgulhosos de coleccionar mais um ano
nas nossas vidas. O que passou, passou.
Em muitos casos ficamos apenas com as
cicatrizes grosseiras, rudes, para um dia, num encontro de evocação ao passado,
desabotoarmos a camisa e as mostrarmos silenciosamente, sem necessidade de usar
palavras, como prova dos perigos que enfrentamos e superamos.
O início de um novo ano carrega um enorme
simbolismo. Antecedido pelo Natal, quadra propícia ao perdão, ao reencontro de
famílias, ao apaziguamento entre adversários e à celebração da amizade, tudo
envolto pelo simbolismo maior que é o nascimento de Jesus Cristo, o início de
um novo ano é por excelência o período do reavivamento espiritual, do renovar
dos sonhos, do lavrar de declarações de intenções em prol de uma vida melhor.
Os mais pragmáticos e escrupulosos puxam as agendas e os blocos de apontamentos
e desenham planos concretos, com contas de somar e multiplicar.
A ver se desta é de vez. Se este é o ano do
salto. (Está mais que provado que a vender ovos ninguém chega lá!).
Mas, enfim… Temos de fazer figas. Neste início de 2020 alimento também a
esperança que venha para o entendimento geral a importância do imaterial, dos
sonhos, das ideias, da inovação, da criatividade e da livre iniciativa para o
enriquecimento e a transformação do mundo à nossa volta. E que as boas ideias,
que podem resultar em boas práticas, sejam devidamente canalizadas,
acarinhadas, recebidas, assimiladas.
No que ao mais diz respeito, confiemos nos
nossos instintos. Não nascemos hoje e se muito ainda temos a aprender, já temos
uma base de conhecimento que nos permite ir caminhando. Se a escuridão for
mesmo total, recorramos ao acalento da poesia e invoquemos os versos magistrais
do poeta espanhol Antonio Machado: “Caminante, no hay camino / se hace camino
al andar.”
E mais, que se parta sempre do princípio que
outrem é alguém bem intencionado, que nos quer bem, até prova em contrário. É
um risco? É. O risco de ser humano.
Sem comentários:
Enviar um comentário