ISAQUIEL CORI
O
país chorou e ainda chora a morte de Luther Rescova. Seria a morte de mais um
dignitário angolano, com as habituais cerimónias fúnebres com honras oficiais e
largos espaços de cobertura mediática preenchidos com as juras de eterna
gratidão e promessas de fidelidade igualmente eterna de companheiros de rota,
não fossem as inúmeras e espontâneas manifestações de pesar pela sua morte e de
apreço pela sua memória por parte de pessoas comuns nas redes sociais, bairros,
mercados e candongueiros, que são, actualmente, os lugares que realmente
importam quando se trata de captar os estados de opinião ou aquilo que
poderíamos chamar o “sentimento” da população. A morte do promissor político,
um dos maiores expoentes da sua geração, coloca em xeque, como foi amplamente
opinado, todo o sistema de saúde, cuja pretensa, relativa e muito discutível
excelência está toda concentrada em Luanda, bem como a eficácia da estratégia
montada para o combate a Covid-19, que também está muito centrada em Luanda.
Mas
não é isso que me traz cá. Dois depoimentos que chegaram ao meu conhecimento,
dos jornalistas Cabingano Manuel e Gabriel Bunga, que referem a aposta pessoal
de Luther Rescova na formação de cada um deles, viabilizando-lhes a
possibilidade de fazerem o mestrado no exterior e o acompanhamento posterior
das respectivas carreiras, proporcionam um recorte excelente do carácter e do
humanismo do ex-governador do Uíje. Pelo que sei, esse tipo de gesto não se
esgotou no apoio aos dois jornalistas. Beneficiou também outros concidadãos. O
país precisa, da parte dos que podem, desses gestos concretos de apoio voltado
para as pessoas de carne e osso e não para uma humanidade abstracta. É desses
gestos que os nossos concidadãos, bafejados pelo poder, deveriam ser férteis.
Aqui estamos a falar em humanismo, mas esses gestos podem ser enquadrados no âmbito
do mecenato. Reconhecer e apadrinhar um jovem promissor, dar-lhe as ferramentas
para desenvolver o seu talento e evoluir na vida deveria ser o maior legado de
quem quer que seja que tenha poder económico, financeiro ou político.
Os
gestos de mecenato de Luther Rescova ficarão como uma das grandes obras da sua
vida, um dos seus maiores legados.
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