Isaquiel Cori
No quadro de uma
abordagem a Manuel Rui que se prolongou no tempo (com várias conversas ao longo
de mais de três meses) e que a publicação do seu último romance, “Kalunga”,
iria concentrar as atenções, se foi cristalizando na minha mente a intenção de
revitalizar a ideia concretizada em “Pessoas com quem falar I” (UEA, 2004) – co-autoria com
Aguinaldo Cristóvão – um livro que reúne entrevistas a escritores angolanos.
Enviei uma bateria de perguntas a MR e ele as respondeu com a maior gentileza e
boa vontade. Parte deste diálogo está publicada na edição de 11/11/2018 do Jornal
de Angola e publico-o aqui na totalidade, neste blogue que também é um arquivo.
Vai chegar o dia, tenho fé, em que tanto esta conversa com MR como outras com
outros autores constantes agora e posteriormente neste blogue serão publicadas
em livro. Refiro-me a autores consagrados ou não, velhos ou novos. “Escutemos” MR a propósito do seu romance “Kalunga”.
Qual é a génese deste romance? Como é que a ideia dele
lhe surge? Tem a ver com o Hino
Nacional, de cuja letra é o autor?
Foi a necessária desconstrução das invasões a
que chamaram Descobrimentos. Era um encontro sobre as antropologias nossas, a
dos saberes escravizados, o epistemicídio ou genocídio de nossos saberes
ancestrais, a necessidade de eliminar a linha abissal e lutar por uma ecologia
dos saberes. Cada um comprometeu-se a produzir um texto para uma revista.
Atempadamente enviei o meu que se intitulava “Roteiro para romance oral num
terreiro de candomblé em Salvador.”
Era uma poética sobre a minha enigmática
existencialidade cruzada com a de uma mãe de santo descendente de escravos idos
daqui. O texto não correspondia à intencionalidade científica da revista. Ainda
bem. Descaracterizei mais ainda as poucas pontas de cartesianismo e fui para um
grande congresso da Universidade da Bahia, extensão de Seabra, muitos
participantes e cerimónia de abertura com hinos nacionais de cada país. No dia
seguinte apresentei o meu texto para uma pequena multidão em arquibancada ao ar
livre. Foi um sucesso de emoções e a maioria de alunos e professores eram
negros. Outorgaram-me o título da comenda Jorge Amado. No texto eu aparecia
vivendo num terreiro de candomblé. Ali estava uma mãe de Santo de Salvador que
integrava o Conselho Científico da Universidade. E o que eu narrava no meu
roteiro, tornou-se profecia. Fui para o terreiro da mãe, no Engenhão, favela de
Salvador onde naquele alto existira antigamente um engenho de escravos fazendo
açúcar. Passei lá, com minha mulher, quinze dias. No romance, quando Tanu, o
chefe dos guerreiros que no início se chamou Elavoco, esperança em umbundo, se
alberga num escondido terreiro de candomblé, pede à Mãe papel, pena e tinta
para escrever rascunhos. São aquele roteiro antigo agora retransformado com
todas as interrogações entre ele e a mãe, como eu, nossas distâncias e
proximidades. A Mãe não aceitava notas de rodapé para o cartesianismo não
contaminar os nossos mistérios.
O drama existencial que eu impunha ao texto
em diálogo com a “Mãe de Santo,” eu e ela “produto” do mesmo opressor que ao
mesmo tempo nos obrigou a estarmos unidos por um fosso a desvendar pelo lançar
os búzios no ritual do candomblé. E o que falava no texto, viver quinze dias
num terreiro, havia de acontecer como se de uma profecia e seu cumprimento se
tratasse.
Não tem nada com o Hino Nacional, que é a
afirmação vitoriosa da identidade em construção, o amor pela nossa terra, pela
paz e pelo progresso, depois do dilúvio. Em Kalunga, é durante o dilúvio eu e a
Mãe demandando nossa e nossas existencialidades, descobrindo o que não foi
escrito ou foi mandado escrever de forma a que o maior crime da humanidade
fosse apresentado como uma glória civilizacional de expansão da cruz e da
espada.
A linguagem adoptada pelo narrador em Kalunga é
substancialmente diferente da usada noutros romances seus. A que se deve essa estratégia de escrita tão
diferente dos seus livros anteriores?
Entendamos que o tempo em que a humanidade
viveu sem escrita é desde o infinito ao contrário. Quer dizer que logo que o
homem descobriu a fala, nasceu a comunicação. Ainda sem escrita o ser humano
tinha linguagem, único modo de ser do pensamento, sendo a língua a parte social
da linguagem. Escrevo no berço da humanidade, portanto, onde primeiro se pensou
o sobrenatural como os Deuses, os ancestrais e formas de com eles se comunicar
(como as senhoras da casa fonte espiritual da embala e conselheiras do soba
Lukamba). É um tempo com imensa acumulação de pensamento ancestral, transmitido
de geração em geração pela palavra que dá a arte de contar pela criatividade e
memória. A minha escrita é uma busca da oratura, escrevo como se estivesse a
contar e o meu leitor me oiça como vozes de silêncio com todos os possíveis
elementos para a linguagem se sobrepor à escrita. Eu, narrador, escrevo
palavras em umbundo sem notas de rodapé porque os significados descobrem-se
dentro da própria narrativa, pelo significante. Em Kalunga estou a falar
escrito sobre o que nunca foi escrito. Então, eu posso assumir a minha
imaginação para rearrumar o caos em que o invasor me colocou. Penso não
tratar-se de uma estratégia de escrita mas de uma escrita que se deixa,
aparentemente, levar por si, com mistérios, símbolos e a preocupação de segurar
o leitor pela poética do vento ou do luar com os ritmos das línguas
originárias.
Teve algum trabalho prévio de presquisa documental ou
outra antes de começar a escrever Kalunga?
Muito. Ainda guardo imensa papelada. Óbvio
que para falar do Quilombo dos Palmares e do Brasil da época informei-me à
exaustão sobre aquela figura de descendentes de angolanos e que nunca havia
sido escravo. Devo dizer que tracei um plano que depois se foi destruindo pela
caminhada de cada personagem mas ainda antes do primeiro terço “desenhei” os
capítulos. Daí para a frente vivi até a respiração de cada personagem, inspirei
o aroma do mato, falei com elefantes e bebi água cantando por entre as pedras.
Os personagens Tanu e soba Lukamba são baseados em
personagens históricos ou são inteiramente fruto da sua criatividade de
escritor?
São de minha invenção mas muitas outras
personagens terão existido com mais valor, coragem e determinação. Repare, cada
personagem pode dar um missosso, uma estória, como o rio Kwanza, os seus
filhos, afluentes, cada um tem uma narrativa que desagua no romance. Na oratura
há também a repetição para frutificar a memória. Também aqui no Kalunga. E tem
o misterioso mergulho de Tanu e a sereia de Kalandula, depois, no fim do
romance, Tanu é a invisibilidade de um espírito superior que faz elevar-se do
mar Iemanjá, deusa das águas, enorme e iluminada para temor e estupefação dos
soldados e fazendeiros. Aliás, importa comparar os dois quase estereótipos de
filosofia revolucionária que decorrem do pensamento de Tanu – que veio resgatar
seus pais – e de Zumbi que pretende construir a primeira república multirracial
do mundo. Os angolanos conseguiram viajar livres num daqueles barcos de
escravos tendo para isso corrompido o comandante da embarcação com pepitas de
ouro. Tanu e seus companheiros desembarcaram com uma quantidade de produtos que
nem um armazém de um grande fazendeiro. Chegaram com poder económico em
contradição com o poder político de Zumbi. Tanu queria atacar os fazendeiros,
montar emboscadas. Zumbi, pelo contrário, tinha argumentos, não autorizava que
os angolanos desencadeassem operações militares. Parece que Tanu tinha razão…
Tanto na história como no seu romance ressalta a relativa
“facilidade” com que o cristianismo foi adoptado. A visão e os valores do
cristianismo seriam mais fortes e atractivos que os das religiões ancestrais
africanas?
Primeiro temos de falar em escravo, trabalho
escravo e escravatura, pois uma das “lavagens” do crime é dizer-se que quando
os invasores chegaram já os africanos tinham escravos. Escrava é qualquer
pessoa forçada ao domínio de outra e privada da sua liberdade ou prática social
em que um ser humano tem direito de propriedade sobre o outro. Aconteceu em
vários continentes depois das guerras os vencidos ficarem a trabalhar para os
vencedores, em regime de escravatura. Mas nada de confusões porque em Kalunga
não é de escravatura que se fala mas num sistema: o esclavagismo, também
designado por Holocausto da Escravidão ou Maafa (grande desastre) em língua suaili.
O sistema tinha estruturas e estabelecia a escravatura como parte fundamental
da sua organização económica. Outras estruturas são as artes náuticas para o
efeito aperfeiçoadas, a logística e o apoio da Igreja, principalmente da Ordem
dos Jesuítas. Singular e único foi o transbordo massivo de milhões de pessoas
arrancadas do seu continente para outros. Estima-se que quinze por cento terão
morrido na viagem ou seja, entre 1500 e 1900 cerca de quatro milhões. Entre
1440-1640, cerca de duzentos anos, os portugueses quase tiveram o monopólio da
escravidão. O cristianismo foi imposto e a inquisição queimava na cruz do seu
tribunal quem não rendesse obediência ao Deus cristão. Esta deslocação massiva
e forçada de populações para outros continentes para serem espalhados por
plantações ou minas, redunda na destruição de suas identidades e a corajosa
reinvenção de uma nova maneira de ser e estar.
A religião é adoptada quando é imposta e está
ligada ao poder. O mesmo se passa com as línguas. A língua portuguesa foi
imposta. Mais tarde, já no séc. XIX, angolanos letrados apropriam-se da língua.
E hoje é a língua dominante porque é a língua do poder. Quem não souber falar
português dificilmente arranja emprego numa cidade. A história deve ser contada
e não mandada escrever. A África, os seus filhos roubados foram a base da acumulação
primitiva de capital, primeiro passo para esta globalização. Estou a escrever
isto e a lembrar-me, arrepiado, do bisneto do soba a quem haviam levado de
escravo o filho e a nora. Falava o miúdo que se o mar fosse por terra ele ia lá
resgatar a sua avó e o seu avô.
A época africana pré-colonial parece um filão para a
imaginação literária, na medida que quase tudo se confunde com os mitos. Obras
muito bem conseguidas ambientadas nesse período são “A Konkhava de Feti”, de
Henrique Abranches e “O Feitiço da Rama de Abóbora”, de Cicakata Mbalundu
(Aníbal Simões). Em “Kalunga” a Mbanza
Lukamba ainda pode enquadrar-se no tal período. Quais são os desafios que no
seu caso encontrou para dar vida a cenários, rituais, hábitos e costumes de
comunidades daquele período?
Tudo é um filão para a arte. Uma simples
lágrima. Uma pacata, mítica e simbólica família de elefantes. Em Kalunga era
preciso a força da natureza, a cumplicidade da chuva e da noite, o “caminho das
estrelas.”
A intenção de imaginar sobre a imaginação da
arte de contar e usá-la como instrumento de luta. Assim faz Tanu cada vez que
conta o destino dos portugueses que o soba negociou a liberdade comprando o
silêncio sobre a embala. Uma vez foi a caravela (o outro que é preciso
conhecer) que se partiu num rio com os cadáveres dos marinheiros pendurados em
embondeiros; outra o comandante e seus homens com o ouro que o soba lhes
deixara levar, instalam-se nos subúrbios de Loanda e acabam em prósperos
comerciantes. Desta vez a sobreposição de missosos. Afinal a oficina da escrita
é o laboratório interior das palavras que podem ser posicionadas como artistas
de teatro num palco e representar o papel que eu laboro a cada instante.
Há um imenso aproveitamento narrativo da natureza, do
ambiente. A floresta, com a sua fauna,
além de cenário das acções humanas acaba também por ser personagem com vida
própria. Isso era inevitável, já que estamos a falar de sociedades muito
marcadas pela ruralidade e praticamente
recolectoras?
Não é um aproveitamento mas uma navegação
pela existência, a profundidade da vida reconhece-se pela beleza. E só há
beleza se houver quem a sinta. Contra as caravelas, as armas de fogo e todo o
arsenal esclavagista, a idiossincrasia dos Elavoco é demasiado poderosa pelas
alianças naturais. É preciso espíritos como os de Kativa ou os da terra sem
nome. A sabedoria ancestral contra a força bruta. Os elefantes são inimigos dos
invasores e ensinam caminhos aos Elavoco. A cadela pisteira é uma divindade e a
sua morte é celebrada como se de uma pessoa se tratasse, um óbito e procedeu-se
a uma matança de todas as cobras que possível foi encontrar no capim da embala.
Também os sucessivos cágados, reserva de saber que emite sinais magnéticos ao
seu dono.
A expansão ocidental, no romance personificada pelos
portugueses, o tráfico negreiro transatlântico, a aculturação e o declínio das
sociedades africanas… Aquilo que alguns chamam a primeira globalização. Uma das
consequências humanas dessa globalização é a mestiçagem, que tanto marca o
Brasil como Angola. Apesar do estranhamento inicial (veja-se o caso do bebé
Ousio, no romance) a mestiçagem é um enriquecimento da humanidade. Pode comentar?
O que aconteceu com o nascimento da menina
filha do pajem do capitão invasor rendido e de uma rapariga da embala é outra
simbologia para a temperatura mental de Lukamba… mais a novidade dos olhos da
menina. Para o soba eram duas pessoas e mais uma terceira, como acontece nas
flores diferentes mas flores.
Agora, se eu posso comentar. Estou-me a rir
porque se eu não existisse não existiria este romance Kalunga! Nada! Podia ser
escrito por um escritor albino. Aliás, mais importante que o espermatozoide e o
óvulo é a mestiçagem entre culturas. Aproveito para lhe recordar que a mãe de Santo
revela a Tanu que o pai dele deixara uma filha da barriga da filha do patrão,
igualzinha à menina que ficara na Lukamba. Só que jamais Tanu poderia vir a
conhecer a sua irmã que frequentava nobres salões de piano. Mais ainda, era
tudo um círculo invisível porque fugia simbolicamente da soldadesca e
fazendeiros que viam nele um “feiticeiro” e depois porque Tanu era um espírito.
Um espírito que fez erguer das águas o meu Orixá para o deslumbramento de todos
a olharem Iemenjá que abria um clarão de luz no céu.
Este romance traça um percurso memorialístico de ida aos
primórdios da história para tentar não só compreender algo mas também construir
algo. Esse algo é a identidade nacional?
Mais do que isso. Um monumento a erguer ao
escravo… uma boa parte dos grandes palácios erguidos em Portugal, Brasil e não
só, têm suor e sangue de Angola.
Na forma como os portugueses cativos são tratados pelo
grupo Elavoco e nas falas do padre Matias fica patente que as relações entre as
pessoas e os povos está sempre mais um passo a frente das entre os Estados.
Sente que isso ainda hoje é verdade?
Sim. O mundo não são as duas guerras mundiais
e as dos dias de hoje nem dos homens que as inventaram. O mundo é Gandhi,
Cristo, Mandela.
“A língua portuguesa é uma vitória que não podemos negar
e há-de ser importante quando no futuro já não estivermos cá, podermos fazer a
guerra com palavras”. Essa premonição, na sua opinião, concretizou-se?
Sim. A língua não é propriedade mas posse,
usufruto. E com ela pode-se traçar uma marca de linguagem para que ela se
localize num espaço. Abra o Kalunga e percebe que é um romance angolano em que
a língua é só a parte social da linguagem.
Sei que Kalunga tinha muitos mais capítulos e teve de
eliminar alguns. Isso por exigência do editor ou vontade própria do autor?
Vocês sabem tudo. Não direi mais capítulos
mas texto. Foi depurado. Faço sempre. Dois editores quiseram tocar em textos
meus e mandei-os para antes do parto. Queriam “corrigir” o meu português. Eu
que escrevo o português de “lei” melhor do que eles.
Os portugueses trouxeram a escrita, a Bíblia, as armas de
fogo, aguardente… em troca de escravos, marfim, ouro… Excluindo os escravos,
hoje passados vários séculos parece ter mudado pouco essa lógica comercial… O
que se lhe oferece dizer?
Deixe-me rir! Meta-se num avião e vá
corromper um procurador tuga! Está diferente…
Não fosse a escravidão, factor que degradou
historicamente as relações entre europeus e africanos, a existência em África,
tomando como exemplo o Reino de Lukamba, teria sido idílica?
Não se pode voltar ao antes de. E se Hitler
não tivesse existido…
O padre Matias aparece cheio de bondade, uma espécie de
colonizador “relutante”, mas sabe-se que a religião foi um dos agentes mais
eficazes da penetração e dominação coloniais. A construção desse personagem
reveste-se de uma perspectiva irónica?
O padre Matias é o símbolo dos portugueses e
religiosos que se opunham ao sistema. O símbolo dos homens de bem. É também um
espírito a povoar o diário que contava a história verdadeira e foi destruído
bem como o acervo de medicina ervanária também queimado pela imbecilidade dos
jesuítas, simboliza também livro de ervanária, o respeito pelo outro para que
possamos ser todos nós.
Para quem escreve? Para si? Idealiza um leitor?
Primeiro
para mim. Para meu prazer. Depois para prazer dos leitores, uma espécie de
orgasmo devolvido. Como disse no lançamento: Agora costumo conversar com o
romance. Antes do fim, quando o escrevia, cheguei a pensar que deveria morrer e
o romance ser concluído por outra pessoa. Afinal era um resgate para sempre
incompleto, estou a ver as caixas de ervanária, os calhamaços com memórias que
o padre encadernava e continham a quase verdade verdadeira da escravatura como
prática e o esclavagismo como sistema. Converso com o romance e, nos rascunhos,
a mãe lançando os búzios sobre a mesa de toalha branca, o búzio que caiu ao
chão e Tanu, como eu não apanhou. A omissão de dizer à mãe que lá em Angola os
búzios eram moeda, os zimbos e com eles se compravam e vendiam escravos que
eram trocados por ouro com que também se trocavam escravos. O vértice daquilo
tudo era o português. Eu agora mesmo, aqui, a conversar com o romance, o barco,
o mar e a capoeira. E os mistérios. Os dois bornais cheios de pepitas de ouro
que Tanu deixou nos aposentos lá no terreiro onde se escondera da perseguição
da soldadesca dos fazendeiros, o governador do Recife que mandara cortar a
cabeça de Zumbi, espetada num pau e exposta numa praça para os fazendeiros
verem. E a cabeça a desaparecer para susto dos brancos. Zumbi era um espírito.
Como Tanu. E eu aqui a lembrar-me do princípio do primeiro rascunho escrito por
Tanu que não sei se ainda existe lá no terreiro da Mãe de Santo. E lembro-me
que dizia assim: (1º rascunho) “Eu nunca devia ter atravessado o Oceano Atlântico
para arranjar maneira de me ensarilhar e perder uma parte da minha já pouca
felicidade por me descobrir em transbordo de mistérios do reverso de minha
reinvenção ancestral, do outro lado do mar moradia da Kianda e da sereia de
Kalandula. Isto será o fim do romance sem princípio. AXÉ!”
Uma curiosidade particular: as mocas - uma espécie de
armas de arremesso - que são usadas no romance, existiram mesmo?
Ainda existem. Eu já tive uma coleção mas
depois fui oferecendo… O caçador leva a zagaia, as flechas, uma moca e à cinta
uma faca com bainha de pele de uma cabra do mato, por exemplo.
Muito obrigado, ilustre Isaquiel Cori, por ter dirigido esta entrevista com bastante mestria e detalhe.
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