Isaquiel Cori
Com o voluntarismo, a generosidade e o espírito de partilha que lhe são
próprios, o poeta e amigo Frederico Ningi colocou-me na rota de distribuição da
versão online da revista Literatas.
Da literatura moçambicana conhecia os velhos escritores revelados e
consagrados no período anterior ou imediatamente posterior à independência do
país, com realce para Noémia de Sousa, José Craveirinha, Luis Bernardo Honwana.
A antologia panorâmica do conto moçambicano “As Mãos dos Pretos”, de Nelson
Saúte, editada pela Publicações Dom Quixote, permitiu-me alargar e actualizar
esse conhecimento aos autores que desabrocharam nos anos posteriores à
independência, até à década de 1990. Nomes como Ungulani Ba Ka Khossa, Albino
Magaia, Paulina Chiziane, Marcelo Panguana, Suleimane Cassamo, e outros,
passaram a integrar o meu imaginário com os seus contos escolhidos por Nelson
Saúte.
Ora, de 2000 para cá havia um vácuo no conhecimento do que se passava
em Moçambique em termos literários. O que se estava a fazer? Para lá do grande
vulto de Mia Couto, que novos autores emergiram? Quais eram as suas
preocupações temáticas? Como enquadravam, literariamente, a nova sociedade
moçambicana, emergida no pós-guerra?
Aparentemente tão próximos, pela história e pela língua, Angola e
Moçambique parecem culturalmente distantes: não existe um intercâmbio directo
de obras culturais. O que se conhece de um lado e do outro é o que é publicado
em Portugal.
A revista Literatas surgiu precisamente como uma pedrada no charco, uma
iniciativa de jovens moçambicanos que aproveitam as facilidades proporcionadas
pelas novas tecnologias para quebrar barreiras e ligar criadores da língua
portuguesa espalhados pelo mundo. Com a Literatas Moçambique está mais junto a
nós: na revista sentimos o pulsar e as inquietações dos novos autores e
vislumbramos um pouco da dinâmica criativa e espiritual do país.
Mas também nos vemos ao espelho, pois, volta e meia, estão autores angolanos nas suas páginas, alguns dos quais em autêntica revelação, a fazer jus ao ditado de que “nenhum profeta
faz milagres na sua própria terra”.
Parabéns a Nelson Lineu, Eduardo Quive, Amosses Mucavele e a toda a
equipa da Literatas! Que o vosso exemplo de empreendedorismo frutifique por
muitos e longos anos.
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