quarta-feira, 13 de junho de 2012

Revista Literatas: Uma pedrada no charco


Isaquiel Cori

Com o voluntarismo, a generosidade e o espírito de partilha que lhe são próprios, o poeta e amigo Frederico Ningi colocou-me na rota de distribuição da versão online da revista Literatas.

Da literatura moçambicana conhecia os velhos escritores revelados e consagrados no período anterior ou imediatamente posterior à independência do país, com realce para Noémia de Sousa, José Craveirinha, Luis Bernardo Honwana. A antologia panorâmica do conto moçambicano “As Mãos dos Pretos”, de Nelson Saúte, editada pela Publicações Dom Quixote, permitiu-me alargar e actualizar esse conhecimento aos autores que desabrocharam nos anos posteriores à independência, até à década de 1990. Nomes como Ungulani Ba Ka Khossa, Albino Magaia, Paulina Chiziane, Marcelo Panguana, Suleimane Cassamo, e outros, passaram a integrar o meu imaginário com os seus contos escolhidos por Nelson Saúte.

Ora, de 2000 para cá havia um vácuo no conhecimento do que se passava em Moçambique em termos literários. O que se estava a fazer? Para lá do grande vulto de Mia Couto, que novos autores emergiram? Quais eram as suas preocupações temáticas? Como enquadravam, literariamente, a nova sociedade moçambicana, emergida no pós-guerra?

Aparentemente tão próximos, pela história e pela língua, Angola e Moçambique parecem culturalmente distantes: não existe um intercâmbio directo de obras culturais. O que se conhece de um lado e do outro é o que é publicado em Portugal.

A revista Literatas surgiu precisamente como uma pedrada no charco, uma iniciativa de jovens moçambicanos que aproveitam as facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias para quebrar barreiras e ligar criadores da língua portuguesa espalhados pelo mundo. Com a Literatas Moçambique está mais junto a nós: na revista sentimos o pulsar e as inquietações dos novos autores e vislumbramos um pouco da dinâmica criativa e espiritual do país.

Mas também nos vemos ao espelho, pois, volta e meia, estão autores angolanos nas suas páginas, alguns dos quais em autêntica revelação,  a fazer jus ao ditado de que “nenhum profeta faz milagres na sua própria terra”.

Parabéns a Nelson Lineu, Eduardo Quive, Amosses Mucavele e a toda a equipa da Literatas! Que o vosso exemplo de empreendedorismo frutifique por muitos e longos anos.




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