Isaquiel Cori Google+
A
convite de Joca da Costa, presidente da junta administrativa, estive, num
domingo recente, no culto da Igreja Metodista de António Rocha, no bairro Golfe
1. Foi a segunda vez que lá estive.
A
primeira foi há cerca de dez anos e encontrei então uma igreja a funcionar
numas instalações precárias de pau-a-pique. Algumas paredes pareciam ir cair a
qualquer momento. Os crentes amontoavam-se num espaço pequeno com pouca
circulação de ar e ao longo de todo o culto jamais largavam os lenços com que
tentavam enxugar o calor do rosto.
A
igreja de António Rocha serve uma comunidade que se estende do Golfe ao bairro
Popular, maioritariamente de origem camponesa. Como em todas as igrejas
angolanas, as mulheres são o motor da igreja, são elas que dinamizam as
principais actividades. Ao longo da semana, pude informar-me então, elas iam às
suas lavras nos arredores de Luanda, para regressarem à sexta-feira e então irem
ao domingo assistir ao culto. Os seus filhos compunham a sociedade de jovens e
davam as suas vozes ao grupo coral da igreja. Muitos desses jovens acabavam por
namorar e casar com companheiros da igreja.
No
domingo recente em que estive na Igreja de António Rocha constatei, diria
incrédulo se não estivesse no interior da igreja, que a junta administrativa da
igreja, agora composta em grande parte pelos filhos das mamãs camponesas,
muitos dos quais adquiriram a formação
universitária, liderados pelo pastor Calenji, deitou abaixo o “edifício” de
pau-a-pique e ergueu uma igreja digna desse nome, toda ela em cimento armado,
com assentos no rés do chão e no primeiro andar. A arte decorativa no interior,
ainda inacabado, em nada fica a dever aos lugares de culto situados em
comunidades mais abastadas.
Há
dez anos a igreja, em termos arquitectónicos, estava perfeitamente inserida no
seu meio: a maioria das casas em redor era de pau-a-pique ou madeira, com
quintais de chapas de zinco. Com o tempo as casas em redor passaram a ser de
blocos de cimento, tal como os quintais: nesse cenário, a igreja de pau-a-pique
parecia uma relíquia. Hoje, com o seu magnificente edifício, a Igreja de
António Rocha sobressai no bairro, onde é o seu “farol” arquitectónico, a
referência das referências.
Ao
longo do culto pude aperceber-me que o mosaico sociológico da comunidade de António Rocha é
basicamente o mesmo de há dez anos, mas com uma franja mais alargada e activa
de jovens conscientes do seu papel de baluartes da igreja. As mamãs e os papás
camponeses estão cansados e muitos deles desiludidos com as desapropriações das
suas lavras que deram lugar à construção de bairros residenciais, fábricas, o
novo aeroporto e outros empreendimentos. Alguns dos papás e mamãs que eu há dez
anos vira cheios de vigor e saúde a cantar e a dançar hoje ainda cantam e
dançam mas estão visivelmente velhos, cansados e até mesmo doentes. Todavia, é
visível nos seus olhos o brilho aceso pela fé e o orgulho de terem participado da obra de
construção do novo templo. E pelo facto de verem os filhos a erguer o
testemunho da igreja.
Durante
muito tempo reflecti sobre a força da fé e da igreja e do quanto as pessoas
podem ser levadas a fazer boas obras em prol da comunidade, independentemente da
sua condição social. A obra monumental da nova igreja de António Rocha foi
feita com dinheiro arrecadado nos cultos. Tostão a tostão, kwanza a kwanza, as
contribuições de cada um dos crentes e eventuais visitantes permitiram a
concretização do sonho: uma igreja nova, moderna, digna dos crentes mas,
sobretudo, do próprio Deus que eles adoram.
Ao
sair daquele culto dominical renovei a minha fé em Deus e na capacidade que Ele
tem de inspirar os homens a juntos fazerem coisas boas.
Kota Isaquiel, prezado irmão em Cristo,
ResponderEliminarSou membro da Igreja Metodista de Moisés, ao Cazenga, e estando a trabalhar na Lunda Sul frequento a Central de Saurimo que ainda é de adobes mas com uma edifício em cimento e betão à volta que vai dar lugar ao velho edificio. A Moisés, em Luanda tb está em obras. A descrição que faz da António Rocha é a mesma que se pode fazer da Moisés e da Central de Saurimo.
Recebe as minhas felicitações.
Só faltaram as fotos da António Rocha.