A renovação da classe política só irá consumar-se com as eleições autárquicas
Isaquiel Cori
Com a tomada de posse dos novos deputados, eleitos nas eleições legislativas de 05 de Setembro, e a formação, em breve, do novo Governo, a classe política angolana tem a grande oportunidade de reaparecer aos olhos da opinião pública com uma imagem de competência e referência incontornável na solução dos problemas que afectam o país e os cidadãos.
A efectivação dos ciclos político-eleitorais tem o grande condão de renovar a classe política, infundindo-lhe sangue novo, com a subida à ribalta de novos contingentes de políticos sedentos de demonstrarem o quanto valem. Aliás, por razões histórico-culturais em Angola a vida política é encarada, ainda, como a principal via para a auto-realização económica: o político de sucesso, com carreira parlamentar ou governativa, no quadro actual (e esperamos que seja sempre assim) jamais cairá nas malhas da pobreza; pelo contrário, é-lhe dado todo o tipo de oportunidades para acoplar à carreira política a condição de empresário. Cabe-lhe aproveitar e caminhar pela vida com o desafogo que só dependerá, em grande parte, da sua criatividade e capacidade de gestão.
A renovação da classe política angolana ficará mais vincada com a realização, no próximo ano, das eleições presidenciais. Mesmo que ganhe o actual detentor do cargo de Presidente da República (trata-se do cenário mais do que provável) necessariamente serão introduzidas mudanças de métodos de actuação e, no que aqui nos interessa, de pessoas no círculo presidencial.
Mas a grande esperança de renovação profunda da classe política vai concretizar-se com a realização das eleições autárquicas: a carreira política estará ao alcance de um número mais vasto de cidadãos interessados. Tais cidadãos serão projectados dos círculos partidários, onde muitos deles levam uma existência de apagados “aparatchiks”, para o universo da vida verdadeiramente pública, junto dos cidadãos e dos seus problemas, podendo então batalhar pelo reconhecimento dos seus méritos ao mesmo tempo que se empenham na solução dos problemas.
As instituições autárquicas serão a grande escola em que a classe política se vai forjar. Os políticos, temperados no dia-a-dia dos bairros, dos municípios, vão suar ao lado dos eleitores e serão obrigados a construir um percurso de dedicação em prol das comunidades. Isto é, estará aberto o caminho para o resgate da política enquanto missão, mais do que isso, sacerdócio, pelo bem público. Quando lá chegarmos, estaremos numa nova era política em Angola.
Da literatura à política, da música às artes plásticas, do sério ao cómico, do sagrado ao profano, do real ao ficcional, os nossos textos terão como substracto Angola, o país e as suas gentes. Queremos nos enriquecer com a experiência de quem divide connosco a existência neste Mundo de hoje, nesta época que nos coube viver. Simbolicamente, procuraremos estabelecer uma ponte com o passado e com aqueles que, não estando já vivos, deixaram um rasto de vida.
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