Arnaldo
Santos publica “O Mais-Velho Menino dos Pássaros”
Isaquiel
Cori
Arnaldo
Santos deu a luz (27/03) “O Mais-Velho Menino dos Pássaros”, obra literária que
emerge do Kinaxixi mítico da sua infância (que nem por sombras lembra o
actual), em cuja floresta exuberante chilreavam as rolas, os bicos de lacre, os
bigodes, os cardeais, os catetes, os maracachões, os pardais, os pica-flores,
as pírulas, os rabos de junco, os siripipis e as viuvinhas negras. Está-se logo
a ver, aquele Kinaxixi era o paraíso das crianças, que nele se entretinham a
caçar os pássaros com as suas fisgas certeiras, quando não se ficavam
simplesmente a admirar os muitos prodígios da natureza.
O
livro, que conta com ilustrações saídas da pena e imaginação de Luandino
Vieira, outro kinaxixiano da gema*,
contém, segundo o sociólogo Paulo de Carvalho, que o apresentou ao público na
União dos Escritores Angolanos, “elementos que podem contribuir para os pais
aprimorarem a forma de educação dos seus filhos”.
Arnaldo
Santos fez questão de dizer que o seu novo rebento não é para ser lido pelas
crianças, devendo elas terem contacto com a estória através da intermediação
dos pais, ou outros adultos, que têm de a ler para os petizes. “Gostaria que o livro
fosse um bom pretexto para esse tipo de relacionamento e compreensão das coisas
do mundo”, sublinhou.
*Um amigo comum
trouxe a reclamação do Mais Velho Luandino: afinal ele não é nada kinaxixiano
de infância. É sim makulusiano (do Makulusu).
Na
verdade, digo eu, a obra de Luandino Vieira transborda de referências ao
Kinaxixi; isso, e uma conversa (que tive o grato de prazer de testemunhar, e
participar) de Luandino com Arnaldo Santos, em casa deste, em Luanda, recheada
de alusões ao Kinaxixi antigo, com toda a sua passarinhada de nomes que soam
completamente estranho à miudagem de hoje, levaram-me a intuir, erroneamente, que
Luandino Vieira tivesse tido uma infância mergulhada no Kinaxixe.
Em
todo o caso, dado que o Kinaxixe e o Makulusu eram territórios contíguos e os seus pequenos habitantes
mais ousados se aventuravam de um lado ao outro, a minha afirmação não estará
completamente errada. E suspeito mesmo que a reivindicação de Luandino será,
talvez, a assumpção de uma orgulhosa identidade de infância marcada já por toda
uma visão da vida adulta recheada de sentimentos, episódios e rivalidades de
bairro.
“Nós,
os do Makulusu”, o livro mais introspectivo e reflexivo de Luandino Vieira, poderá
ser lido também como uma afirmação de identidade local, de bairro, face aos kinaxixianos? Temos de voltar a ler este livro.
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