terça-feira, 27 de abril de 2021

ROMANCE O IMPÉRIO KASSITUR, DE F. TCHIKONDO: Sonhar o futuro




Isaquiel Cori

O romance “O Império Kassitur na Dinastia Sekele”, de F. Tchikondo, editado pela União dos Escritores Angolanos, é a saga da família Sekele ao longo de várias gerações, abarcando o período de 1992 a 2070. Nesse longo lapso de tempo a família constrói o Império Kassitur, um muitíssimo bem sucedido grupo empresarial do sector turístico.

A narrativa, que estrategicamente resulta do relatório de um grupo de estudiosos encarregado, em 2150, de pesquisar a história dos Sekele, põe o leitor diante de um admirável mundo novo, em que a Física quântica enfim triunfou e concretizou-se na vida quotidiana através da informática quântica, da indústria quântica... Foram construídas pistas magnéticas por onde “trafegam viaturas de levitação dos mais variados modelos e potências e os mais modernos transportes movidos a electricidade, comandados por computadores quânticos, que enchem essas avenidas com os seus movimentos suaves, silenciosos e precisos”.  No deserto do Namibe funciona um sistema de lançamento para viagens a Lua e a Marte. Há liberdade sexual e a poliginia e a poliandria estão de “mãos dadas”. A sociedade é dominada pelas mulheres, que “ultrapassaram os homens em conhecimento, riqueza e liderança”. A educação e todas as “unidades das crianças” estão entregues a instituições públicas... A democracia subsiste completamente transformada: os partidos políticos extinguiram-se e reina um sistema dominado pelos grupos empresariais.

Mas desengane-se quem pensar que neste (naquele) mundo tudo é perfeito: a expansão do sistema quântico de comunicação por telepatia está a enfrentar dificuldades por causa de “doenças primitivas” como o coronavírus e o “mbumbi” em algumas localidades e de algumas pessoas que ainda não se libertaram dos preconceitos e acreditam no feitiço. E a criminalidade é uma realidade. “Os investimentos na indústria humanóide cresceram como resultado de especulações nas bolsas de valores”.

Angola é imaginada como “um dos principais destinos de investimento económico e de aplicações financeiras provenientes de todo o mundo”; “um sem número de empresas e homens de negócios deslocalizaram-se dos países ricos e desenvolvidos e vieram para Angola salvar o que restava das suas marcas e das suas imensas fortunas. Depressa alcançaram o sucesso”.

A narrativa é surpreendentemente ágil, envolvente, o que torna a leitura prazerosa e deixa o leitor à mercê do ritmo e do desenrolar da história, que é servida por uma urdidura engenhosa. Alguns dos momentos de maior dramaticidade estão centrados nos diálogos, bastante profundos e analíticos. É através dos diálogos que alguns personagens ficam marcados na memória do leitor.

Apesar do romance abarcar um período que vai até daqui a 150 anos, em que “fatalmente” haverá enormes transformações na língua portuguesa falada em Angola, o autor optou por uma linguagem que privilegia a comunicabilidade com o leitor actual, a quem são dadas as novidades “incríveis” do novo mundo. O romance  “O Imperío Kassitur na Dinastia Sekele” é, em primeiro lugar, um hino à liberdade de imaginação e de criatividade. Sonhar não é proibido.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário