Isaquiel Cori
O romance “O Império Kassitur na Dinastia Sekele”, de F. Tchikondo, editado pela União dos Escritores Angolanos, é a saga da família Sekele ao longo de várias gerações, abarcando o período de 1992 a 2070. Nesse longo lapso de tempo a família constrói o Império Kassitur, um muitíssimo bem sucedido grupo empresarial do sector turístico.
A
narrativa, que estrategicamente resulta do relatório de um grupo de estudiosos
encarregado, em 2150, de pesquisar a história dos Sekele, põe o leitor diante
de um admirável mundo novo, em que a Física quântica enfim triunfou e
concretizou-se na vida quotidiana através da informática quântica, da indústria
quântica... Foram construídas pistas magnéticas por onde “trafegam viaturas de
levitação dos mais variados modelos e potências e os mais modernos transportes
movidos a electricidade, comandados por computadores quânticos, que enchem
essas avenidas com os seus movimentos suaves, silenciosos e precisos”. No deserto do Namibe funciona um sistema de
lançamento para viagens a Lua e a Marte. Há liberdade sexual e a poliginia e a
poliandria estão de “mãos dadas”. A sociedade é dominada pelas mulheres, que
“ultrapassaram os homens em conhecimento, riqueza e liderança”. A educação e
todas as “unidades das crianças” estão entregues a instituições públicas... A
democracia subsiste completamente transformada: os partidos políticos
extinguiram-se e reina um sistema dominado pelos grupos empresariais.
Mas
desengane-se quem pensar que neste (naquele) mundo tudo é perfeito: a expansão
do sistema quântico de comunicação por telepatia está a enfrentar dificuldades
por causa de “doenças primitivas” como o coronavírus e o “mbumbi” em algumas
localidades e de algumas pessoas que ainda não se libertaram dos preconceitos e
acreditam no feitiço. E a criminalidade é uma realidade. “Os investimentos na
indústria humanóide cresceram como resultado de especulações nas bolsas de
valores”.
Angola
é imaginada como “um dos principais destinos de investimento económico e de
aplicações financeiras provenientes de todo o mundo”; “um sem número de
empresas e homens de negócios deslocalizaram-se dos países ricos e
desenvolvidos e vieram para Angola salvar o que restava das suas marcas e das
suas imensas fortunas. Depressa alcançaram o sucesso”.
A
narrativa é surpreendentemente ágil, envolvente, o que torna a leitura
prazerosa e deixa o leitor à mercê do ritmo e do desenrolar da história, que é
servida por uma urdidura engenhosa. Alguns dos momentos de maior dramaticidade
estão centrados nos diálogos, bastante profundos e analíticos. É através dos
diálogos que alguns personagens ficam marcados na memória do leitor.
Apesar
do romance abarcar um período que vai até daqui a 150 anos, em que “fatalmente”
haverá enormes transformações na língua portuguesa falada em Angola, o autor
optou por uma linguagem que privilegia a comunicabilidade com o leitor actual,
a quem são dadas as novidades “incríveis” do novo mundo. O romance “O Imperío Kassitur na Dinastia Sekele” é, em
primeiro lugar, um hino à liberdade de imaginação e de criatividade. Sonhar não
é proibido.
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