A antologia de poesia
angolana “Entre a Lua, o Caos e o
Silêncio: a Flor”, organizada por Irene Guerra Marques e Carlos Ferreira (Mayamba,
2011) acaba de ganhar uma segunda edição
revista, alargada e actualizada, com chancela simultânea da editora angolana
Mayamba e da portuguesa Guerra e Paz. Em Portugal o livro já está em
circulação, em Angola o Jornal de Angola
só conseguiu apurar que está para breve
Isaquiel Cori
A antologia inclui “formas de arte verbal ou
oratura” com poemas recolhidos das tradições Kikongo, Kimbundu, Kwanyama e
Umbundu e os primeiros documentos literários
(poéticos), que remontam ao século XVII. Os precursores José da Silva
Maia Ferreira, Cândido Furtado, Cordeiro da Mata, Pedro Félix Machado, e
outros, que produziram no século XIX, têm igualmente os seus poemas
referenciados. O grosso dos poetas (e seus poemas) está, obviamente, recenseado
sob o capítulo “Modernidade e Contemporaneidade – Continuidades e
Descontinuidades Séc. XX-XXI). Estes são, enfim, os poetas do nosso tempo.
Organizados alfabeticamente, estão aí Abreu Paxe, Adriano Botelho de
Vasconcelos, Agostinho Neto, Aires de Almeida Santos, Amélia Dalomba, Ana Paula
Tavares, António Pompílio, Conceição Cristóvão, Gonguita Diogo, João Tala, John
Bella, José Luís Mendonça, José Eduardo Agualusa, Lopito Feijó, Manuel Rui,
Manuel António, Ondjaki, Sapyruka… Para atestar da abrangência dos poetas
antologiados, desafiamos o leitor a pensar num poeta angolano qualquer, de qualquer
geração, e apostamos que estará certamente neste livro de mais de mais de 600
páginas. Estamos a falar da edição publicada em 2011.
Modificações profundas
Irene
Guerra Marques disse ao Jornal de Angola
que a nova edição sofreu profundas modificações em relação à de 2011, pois
trata-se de uma edição revista, acrescentada e actualizada. “As alterações introduzidas dizem respeito à
inserção de novos dados, novas informações, novas notas explicativas e novos
poetas que contribuíram para o alargamento do corpus”.
Ainda segundo a investigadora foram
respeitadas as grafias originais (sécs. XVII e XIX), bem como as traduções em
língua portuguesa. “Como novidade esclarecemos a questão da autoria de um poema
do séc. XVII, considerado no anonimato até agora. A Introdução foi alterada com
vista ao fornecimento de mais informações sobre as gerações que integram a
antologia e o prefácio é de Francisco Soares, especialista em literatura e
estudos literários”.
A inclusão de poetas do século XXI, que
o crítico literário João Fernando André considera como pertencendo à Geração da
Insana Idade, marca igualmente a diferença em relação à edição anterior.
Carlos Ferreira,
co-organizador, igualmente contactado por este jornal, reiterou a existência de
diferenças substanciais entre as duas edições. “No domínio dos autores lembro o
acrescento de Carlos Pedro, Job Sipitali e Helena Dias, entre outros”, afirmou,
acrescentando que a revisão de todo o trabalho foi bastante melhorada, pois “a
edição de 2011 tinha bastantes erros, fruto de uma falta de revisão aturada”.
A segunda edição
da antologia “Entre a Lua, o Caos e o
Silêncio: a Flor” só foi possível, segundo
Carlos Ferreira, graças à empresa DST, que a patrocinou.
Dupla chancela
“Esta nova edição que é da Guerra & Paz editores, mas
também da Mayamba, tem mais cerca de 70 páginas e alargou a poetas
contemporâneos o arco temporal coberto pela antologia. A capa, o layout do
miolo, são completamente novos. Usámos, a pedido dos organizadores, ilustrações
do Mestre José Rodrigues, mas optámos por uma imagem diferente da que se
usou na edição de 2011, escolhendo uma imagem mais feliz e optimista - a de
2011 tinha como símbolo mais forte a lágrima - e mais cósmica, com sol e lua, o
que joga com o título da antologia”, explicou Manuel Fonseca, responsável
editorial da Guerra & Paz. “Por outro lado, pintámos à mão as três faces do
miolo, num tom ‘bordô’ que casa com o bordejamento da mesma cor da capa e da
contracapa. Julgo que fizemos um trabalho decente, porque a recepção tem
sido muito boa”, completou.
O Jornal de Angola
tentou contactar a editora Mayamba, na pessoa do seu responsável Arlindo
Isabel, para, entre outros aspectos, saber quando a nova edição de “Entre a Lua, o Caos e o Silêncio: a Flor” será posta a circular em
Angola, lamentavelmente sem sucesso.
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