Isaquiel
Cori
Coisas
há, e não são poucas, que se tornaram tão comuns e imprescindíveis ao nosso dia
a dia que fica quase difícil acreditar que há bem pouco tempo eram uma
raridade. A Internet é uma delas.
Palavra
curta, ela representa entretanto todo um mundo de possibilidades e de acesso a
conteúdos de todos os tipos. Seja a partir de um smartphone, tablet ou
computador o cidadão pode ampliar o seu olhar a toda a dimensão do mundo e
aceder a informações sobre qualquer lugar ou assunto e aprofundar o seu
conhecimento sobre qualquer ramo do saber. Essa é a visão que a maioria de nós
tem da Internet: um lugar, ou veículo,
em que se vai buscar, ou que nos permite aceder, ao saber. Ao saber sobre o
mundo e até sobre nós mesmos.
Pois
esta visão é profundamente errada. É preciso entender cada vez mais mais a
Internet como uma auto-estrada de dois sentidos, em que se vai, levando
conteúdos, e em que se vem, trazendo conteúdos. E que tipo de conteúdos podemos
introduzir na Net? A nossa visão do mundo, o nosso entendimento da vida, as
nossas experiências, sonhos, expectativas; o conhecimento da nossa realidade,
da nossa história, a memória de nós, as palavras tal como as concebemos e as
dizemos. O mesmo é que dizer, nós temos de estar espelhados na Internet.
Efectivamente,
a info-inclusão digital não é apenas ter acesso aos conteúdos da Internet, é
também lá estarmos, postarmos lá os nossos conteúdos. Tudo deve começar,
evidentemente, pelo mais básico que é dispor de uma plataforma física de acesso
(smartphone, tablet, computador) e de serviços de Internet baratos e
funcionais.
Pela
bitola da nossa presença (ausência) na Internet dá para perceber logo o quanto
Angola é efectivamente um país subdesenvolvido. Nos últimos anos, e a cada ano
que passa, as coisas melhoram. Muitas instituições públicas e privadas dispõem
de sites, que padecem entretanto de um mal comum: a desactualização. Há pouco
mais de dez anos, se tanto, registou-se um interessante movimento de criação de
blogues, sobretudo por iniciativa de jornalistas e escritores. Reginaldo Silva
(“Morro da Maianga”), (“Mesu ma Jikuka”), Patissa são alguns dos nomes que me
ocorrem, mas é importante mencionar a existência de um blogue dos blogues,
“Blogues que falam de Angola”, que referencia os blogues com conteúdos sobre
Angola. Os sites de informação são os que mais alimentam os motores de busca
com conteúdos versáteis, actuais e diversificados sobre o país. Mas tudo isso,
para a dimensão de Angola, ainda é muito pouco. Muito ainda há a aproveitar e
explorar. As ferramentas estão aí, muitas delas gratuitas, a simples distância,
como soe dizer-se, de um click. As escolas deviam aproveitar mais a Internet,
fazendo com que os alunos não só fossem buscar dados para elaborar os seus
trabalhos académicos, mas também que postassem, em blogues da instituição ou
pessoais, esses trabalhos académicos. Estranha-me o facto de se aproveitar tão
mal e pouco essa importantíssima ferramenta online que é a Wikipédia. Enciclopédia virtual de que
qualquer internauta pode ser editor, desde que naturalmente obedeça aos
parâmetros, a Wikipédia tem alguma informação sobre Angola, mas devia ter mais,
muito mais. Informação sobre lugares, personalidades, conceitos, coisas nossas,
olhares nossos, sabores nossos… Seja por iniciativas individuais ou
institucionais, é um vazio que devia ser preenchido. Há dias recebi um sms do
escritor Hélder Simbad, líder do movimento literário Litteragris, a dar-me
conta da criação de uma revista literária electrónica online. Trata-se,
obviamente, de um importante aporte em matéria de inclusão de conteúdos sobre
Angola na Internet. Projectos como este enfrentam um desafio quase insanável,
que é o de encontrar um modelo sustentável de negócio. Quando todos os dias
chegam-nos notícias de outras paragens do mundo que apontam para o aumento do
volume de negócios na Internet, com a publicidade online, em muitos casos, a
ultrapassar a publicidade veiculada nos meios tradicionais, em termos de
arrecadação de lucros, em Angola vemos projectos comerciais de grande
informação online a debaterem-se com grandes dificuldades para continuarem de
pé ou até mesmo a morrerem. A solução vem aí, dizem alguns, com o lançamento e
a entrada em funcionamento do Angosat, o consequente barateamento e a expansão
e massificação do serviço de Internet. A ver vamos.
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