segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A NOSSA (DIFÍCIL) INCLUSÃO DIGITAL

Isaquiel Cori

Coisas há, e não são poucas, que se tornaram tão comuns e imprescindíveis ao nosso dia a dia que fica quase difícil acreditar que há bem pouco tempo eram uma raridade. A Internet é uma delas.
Palavra curta, ela representa entretanto todo um mundo de possibilidades e de acesso a conteúdos de todos os tipos. Seja a partir de um smartphone, tablet ou computador o cidadão pode ampliar o seu olhar a toda a dimensão do mundo e aceder a informações sobre qualquer lugar ou assunto e aprofundar o seu conhecimento sobre qualquer ramo do saber. Essa é a visão que a maioria de nós tem da Internet:  um lugar, ou veículo, em que se vai buscar, ou que nos permite aceder, ao saber. Ao saber sobre o mundo e até sobre nós mesmos.
Pois esta visão é profundamente errada. É preciso entender cada vez mais mais a Internet como uma auto-estrada de dois sentidos, em que se vai, levando conteúdos, e em que se vem, trazendo conteúdos. E que tipo de conteúdos podemos introduzir na Net? A nossa visão do mundo, o nosso entendimento da vida, as nossas experiências, sonhos, expectativas; o conhecimento da nossa realidade, da nossa história, a memória de nós, as palavras tal como as concebemos e as dizemos. O mesmo é que dizer, nós temos de estar espelhados na Internet.
Efectivamente, a info-inclusão digital não é apenas ter acesso aos conteúdos da Internet, é também lá estarmos, postarmos lá os nossos conteúdos. Tudo deve começar, evidentemente, pelo mais básico que é dispor de uma plataforma física de acesso (smartphone, tablet, computador) e de serviços de Internet baratos e funcionais.
Pela bitola da nossa presença (ausência) na Internet dá para perceber logo o quanto Angola é efectivamente um país subdesenvolvido. Nos últimos anos, e a cada ano que passa, as coisas melhoram. Muitas instituições públicas e privadas dispõem de sites, que padecem entretanto de um mal comum: a desactualização. Há pouco mais de dez anos, se tanto, registou-se um interessante movimento de criação de blogues, sobretudo por iniciativa de jornalistas e escritores. Reginaldo Silva (“Morro da Maianga”), (“Mesu ma Jikuka”), Patissa são alguns dos nomes que me ocorrem, mas é importante mencionar a existência de um blogue dos blogues, “Blogues que falam de Angola”, que referencia os blogues com conteúdos sobre Angola. Os sites de informação são os que mais alimentam os motores de busca com conteúdos versáteis, actuais e diversificados sobre o país. Mas tudo isso, para a dimensão de Angola, ainda é muito pouco. Muito ainda há a aproveitar e explorar. As ferramentas estão aí, muitas delas gratuitas, a simples distância, como soe dizer-se, de um click. As escolas deviam aproveitar mais a Internet, fazendo com que os alunos não só fossem buscar dados para elaborar os seus trabalhos académicos, mas também que postassem, em blogues da instituição ou pessoais, esses trabalhos académicos. Estranha-me o facto de se aproveitar tão mal e pouco essa importantíssima ferramenta online que é a  Wikipédia. Enciclopédia virtual de que qualquer internauta pode ser editor, desde que naturalmente obedeça aos parâmetros, a Wikipédia tem alguma informação sobre Angola, mas devia ter mais, muito mais. Informação sobre lugares, personalidades, conceitos, coisas nossas, olhares nossos, sabores nossos… Seja por iniciativas individuais ou institucionais, é um vazio que devia ser preenchido. Há dias recebi um sms do escritor Hélder Simbad, líder do movimento literário Litteragris, a dar-me conta da criação de uma revista literária electrónica online. Trata-se, obviamente, de um importante aporte em matéria de inclusão de conteúdos sobre Angola na Internet. Projectos como este enfrentam um desafio quase insanável, que é o de encontrar um modelo sustentável de negócio. Quando todos os dias chegam-nos notícias de outras paragens do mundo que apontam para o aumento do volume de negócios na Internet, com a publicidade online, em muitos casos, a ultrapassar a publicidade veiculada nos meios tradicionais, em termos de arrecadação de lucros, em Angola vemos projectos comerciais de grande informação online a debaterem-se com grandes dificuldades para continuarem de pé ou até mesmo a morrerem. A solução vem aí, dizem alguns, com o lançamento e a entrada em funcionamento do Angosat, o consequente barateamento e a expansão e massificação do serviço de Internet. A ver vamos.





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