Havia um hábito saudável nas escolas secundárias de Luanda, e que terá perdurado até meados dos anos 80, que consistia na troca de livros entre estudantes. Os livros, geralmente romances e novelas, circulavam de mão em mão inicialmente num círculo informal de interessados, até que finalmente desapareciam e raramente retornavam, absorvidos por outros círculos de leitores.
Esse intercambiar de livros proporcionava uma boa variedade de leituras e ajudava a amortecer o custo elevado e a carência dos mesmos.
Hoje é constrangedor ver o que acontece na maioria das nossas escolas. Os professores queixam-se cada vez mais das crescentes dificuldades dos alunos assimilarem as matérias, o que é geralmente explicado pela também crescente incompetência linguística dos educandos. Ora, tudo isso, para além de outros factores que os estudiosos da coisa social saberão melhor explicar, deve-se obviamente ao enorme défice de hábitos de leitura.
Mas essa carência de hábitos de leitura não derivará igualmente de uma certa maneira elitizada como se vem encarando em Angola o fenómeno da produção de livros? Por que razão a produção de livros há-de ser apenas apanágio dos escritores e dos académicos?
Os livros que são editados, se não são “técnicos” ou “científicos” enquadram-se (em muitos casos pretensamente) na literatura entendida como arte. Mas esse leque de ofertas editoriais claramente não satisfaz nem cativa todos os potenciais leitores. O que aconteceria se por exemplo um ex-atleta como Jean-Jacques fosse encorajado a escrever (ou a mandar escrever) e publicar a sua biografia e as suas memórias de atleta de sucesso nacional e internacional? E, ainda, se viesse a público, em livro, uma grande reportagem sobre o fenómeno do feiticismo em Angola? Ou se um determinado músico popular contasse em livro a história das suas canções?
Está claro que mais contingentes de cidadãos seriam atraídos ao mundo da leitura.
Isaquiel Cori
Da literatura à política, da música às artes plásticas, do sério ao cómico, do sagrado ao profano, do real ao ficcional, os nossos textos terão como substracto Angola, o país e as suas gentes. Queremos nos enriquecer com a experiência de quem divide connosco a existência neste Mundo de hoje, nesta época que nos coube viver. Simbolicamente, procuraremos estabelecer uma ponte com o passado e com aqueles que, não estando já vivos, deixaram um rasto de vida.
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